segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Fé

A Religiosidade do Ilhéu, a Cruz, o Cruzeiro e o Rito

O sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no Mundo, duas situações existênciais assumidas pelo homem ao longo da sua história. (ELIADE, 2001:20)


A religiosidade na Ilha dos Marinheiros possui uma característica única, ou seja tem sua trajetória fundamentada na religião católica apostólica romana e na herança cultural religiosa portuguesa. Na ilha não existia até pouco tempo, outra prática religiosa, que não fosse a católica.
A religião praticada na ilha é a professada pela Igreja Católica Apostólica Romana. O cristianismo, que se baseia no antigo testamento, na Bíblia e na doutrina de Jesus Cristo, que tem na cruz a sua principal identificação, caracterizando os cristãos.
A cruz faz parte da trajetória bíblica e tem uma estreita relação com a figura de Cristo. A veneração à cruz reafirma a crença em Jesus e resume a união entre o céu e a terra. Portanto, percebe-se que a cruz, vista como símbolo, exerce uma importante função ao realizar a ligação do mundo humano com o sagrado.
É a cruz que estabelece a ligação do homem com a divindade, com Deus. É diante da cruz, símbolo que cumpre uma função poderosa de ligação com o sagrado, que o homem entra em contato com o divino, através das preces, dos pedidos, da veneração, da adoração, e onde os agradecimentos são exteriorizados como expressão máxima de uma cultura religiosa. Geertz (1989) vê este símbolo como parte de uma experiência unificadora;


(...) se revela de forma contínua e dialética, pois transforma simples objetos (como uma madeira) em uma potente realidade de transcendência, oportunizando uma ligação com o sagrado, fazendo circular por um código o todo num simples fragmento. (internet-ver religiosidade e cidade – o Santuário de Santa Cruz dos Milagres –Pi).

O fenômeno religioso tem a atenção despertada, em parte, pela tradição ao culto, mas também pela herança histórica católica portuguesa que as populações herdaram e mantêm viva, como uma forma de ligação entre o céu e a terra, entre o sagrado e o profano, entre a pátria mãe e a terra onde vivem, constituindo importante patrimônio histórico e cultural. Aqui a memória desempenha um importante papel de sedimentação na formação de uma identidade cultural própria da ilha dos Marinheiros e intimamente ligada à vida com o mar. Brandão aponta ‘(...) e logo o sentimento duma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar” (BRANDÃO, 1924 apud DIEGUES, 1998: 212).
Lukács (2003) postula, da possibilidade de determinada “classe”, e aqui se vê o ilhéu com esta visão, de que ela, a classe, pode estabelecer uma visão de mundo particular e, ao formar a sua memória, constituir-se em um grupo com uma percepção especial sobre a sua história, a partir da memória coletiva, que é constituída de diversas memórias individuais, o que Halbwachs define como que “(...) nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros (HALBWACHS, 2006:30), constituindo a memória de um grupo.
Então, esta ligação que a cruz oportuniza com o sagrado, é para o homem religioso, a oportunidade de viver a dicotomia que a vida proporciona, de dois tempos distintos, um tempo primordial, sagrado e que é “(...) santificado pelos deuses e suscetível de tornar-se presente pela festa” (ELIADE, 2001:65) no fato religioso, e de outro tempo: o temporal, quando o homem trabalhava e vive o cotidiano inserido no mundo.
“O mundo insular” (DIEGUES, 1998:13) constitui-se de redutos socioculturais com espaços geográficos – culturais, específicos que possuem representações simbólicas únicas e práticas sociais singulares que orientam as ações daqueles habitantes e normatizam seus comportamentos na comunidade.
Sendo o ambiente insular rodeado pelo mar, as imagens arquetípicas destas populações são produzidas pelo “(...) inconsciente coletivo (a ilha refúgio, a ilha paraíso)” (DIEGUES, 1998:15), característico das populações continentais, e que ainda segundo Diegues diferem da realidade ilhéu que, “(...) representam simbolicamente o território em que vivem, usando segundo as épocas históricas, imagens e símbolos cujos significados podem ser diferentes dos usados pelas sociedades não insulares ou continentais” (DIEGUES, 1998:18).
O homem insular não vive isolado do cosmos, mas completamente envolvido nele, pela natureza, e sua “(...) identidade emocional inconsciente” (JUNG, 86:1973) é extremamente ligada aos fenômenos naturais, uma vez que sua vida é regida pelo tempo cíclico das estações climáticas e do ritmo da natureza. Os particularismos da gente do mar e dos habitantes insulares envolve, em geral, desde os rituais que antecedem a saída para a pesca, à própria pesca e vão do lançamento dos barcos ao mar até o seu retorno. Sobressai ainda a escolha dos companheiros de trabalho e que vão na parelha, assim como o modo de falar e a forma como enfrentam a dualidade da relação água-terra.
O linguajar próprio com expressões praieras como diz Marques (1973) caracteriza também o ilhéu que não é ‘mitrado’ e nem não gosta de ‘bater a costera’ mas que gosta de falar das ‘coisa osca’ e preza o fato de ser dono de si mesmo e ter esta impressão de liberdade, embora a segregação imposta pela natureza de se ver rodeado de água e isolado, e por isso conserva quase que intacta as tradições firmadas de “(...) sua cultura e o seu primitivismo social”(MARQUES, 1973: 15) mesmo diante da interferência de outras culturas e grupos sociais.
Mas estes insulares da ilha dos Marinheiros são ligados a um outro tipo de atividade além da pesca, que é a atividade agrícola. Pois estão submetidos à sazonalidade da safra pesqueira e às leis existentes pelo período da desova dos peixes, assim, estes insulares se dedicam também à agricultura em regime familiar.
A reprodução social e cultural que advém desta dualidade de vida entre a terra/mar somada ao componente da cultura portuguesa, dão a este insular um sentido muito forte do sagrado e das suas relações com o sobrenatural. As intempéries do mar, a incerteza da safra agrícola e a sujeição à natureza e aos seus fenômenos não controláveis, dotaram este habitante insular de um forte caráter social e religioso impregnado de misticismo e superstição.
Aliado a está característica, existe o culto às imagens (iconolatria), característico das comunidades portuguesas e católicas, em que “(...) buscam enfatizar a centralidade do sagrado”(CAMURÇA & GIOVANNINI JR., 2003: 229) em suas vidas e reúnem elementos que norteiam seus atos e demonstram, com os símbolos, os significados e os conceitos de sagrado e profano reunidos pela comunidade.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Audiovisual e a Fotoetnotextografia. O caso do Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros

Trabalho apresentado no Regiocom2008 -

Resumo:

Este artigo apresenta dados sobre a realização do Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros e a sua apresentação em forma de audiovisual para a comunidade de ilheús. O que é um audiovisual e como produzi-lo. A Fotoetnotextografia e seus conceitos e métodos. Este artigo apresenta essa trajetória sobre a produção de audiovisual, a fotoetnotextografia em um estudo de caso sobre o Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros. Esta abordagem apresentada visa esclarecer as etapas de produção de audiovisual a partir de imagens fotográficas, o uso da fotoetnografia e a conceituação da fotoetnotextografia.

Palavras Chaves:

Audiovisual, fotografia, fotoetnografia, fotoetnotextografia, comunicação visual.


A qualidade e o sucesso de um audiovisual depende sempre, e em grande parte, do planejamento que antecede a produção. Não foi diferente na realização do audiovisual sobre o “Projeto Fotográfico da Ilha dos Marinheiros”.
Assim, apresenta-se aqui algumas premissas sobre a realização de um audiovisual, para depois se verificar o estudo de caso em uma abordagem sobre o seu uso no projeto em questão.
Todo o audiovisual depende sempre da realização de um planejamento antecipado e claro, afim de estabelecer e focar o objetivo do trabalho. O objetivo geral e o objetivo específico precisam nesta etapa serem estabelecidos de forma concisa, clara e objetiva para o sucesso do trabalho e para tanto necessitam de um estudo prévio e antecipado do público alvo.
Um audiovisual deve sempre estar visando o que se espera obter da sua audiência, Mesmo após a visualização do trabalho é necessário se alcançar resultados que evidenciem o sucesso do trabalho.
Então, se entende que no planejamento de um audiovisual deve ser desencadeado uma série de passos preliminares e que antecedam a sua realização, com o único objetivo de construir um trabalho sólido, objetivo e eficaz em seus propósitos comunicacionais.
Um análise de audiência, buscando responder a questões que esclareçam o nível educacional dos espectadores, a idade, o nível de renda, os pontos de vistas religiosos, seus afazeres diários e o local de suas residências, serão fundamentais para se poder definir o trabalho, pois o que sabem sobre o assunto e o que deve ser produzido em função do público alvo é de vital importância para o sucesso do empreendimento.
A produção e o roteiro deverão estabelecer, além do custo, questões fundamentais para um bom trabalho, no que dizem respeito ao tamanho do audiovisual, o tempo de duração, o custo orçamentário para a sua realização e divulgação, os elementos humanos que irão trabalhar e ou representar(se for o caso), cachês, quem irá dirigir, os assessores, o pessoal da técnica, as autorizações e contratos para o uso de imagem, além é claro da definição de equipamentos a serem utilizados, suportes fotográficos e a definição final do tamanho da projeção.
Todos estes elementos são fundamentais e devem ser constantemente avaliados, durante o andamento da produção, de forma que os problemas que forem surgindo durante a realização do audiovisual possam ser resolvidos visando garantir o sucesso do empreendimento.
Com o advento da era digital, o quadro de planejamento tão utilizado até então, passou a vir disponível em softwares, que garantem, ainda que minimamente, uma visão de parte da seqüência visual das imagens a serem utilizadas. Salienta-se, no entanto, que produções mais ambiciosas devam conter um roteiro escrito que deve incluir a descrição de cada imagem individual e a narração a ser utilizada em cada uma, ainda que digitada em forma de legenda.
Após toda a etapa de planejamento e produção a aprovação do roteiro começa-se a etapa mais clara do processo. O chamado “shot breakdown”, isto é, colocar os slides ou imagens em ordem de apresentação, o que determina a forma mais conveniente à execução do trabalho. Esta edição de imagens é necessária ser feita e ao seu final ser salva com identificações cronológicas de forma que sempre se possa voltar para refazer ou alterar algum ponto que se julgue necessário.
Outro fator importante é definir o formato das imagens, ou seja , a forma como as imagens serão registradas para o áudio visual, visando o uso da verticalidade da cena ou a sua horizontalidade, conforme a informação que se deseja passar. Está definição é muito importante, para dar uma maior qualidade ao registro visual. Nesta etapa conta muito o senso estético da cena, mas é de fundamental importância salientar, que ela deve ter sido pensada na etapa de planejamento do audiovisual.
O processo de captura das imagens ao ser iniciado, deverá então, seguir as orientações do roteiro. As tomadas fotográficas deverão então ir privilegiando sobre maneira as combinações adequadas de luz existente, com as sensibilidades utilizadas, de forma que as imagens registradas, mostrem uma perfeição de cores, contraste, luminosidade e saturação, além é claro da informação visual.
Os procedimentos fotográficos técnicos serão sempre baseados no uso da iluminação adequada, de forma à gravarem imagens claras em seu conteúdo e com um contraste perfeito, qualificando-as para a utilização no audiovisual. Imagens escuras, sem contraste ou mal iluminadas serão descartadas, pois terão baixa visibilidade e serão de difícil leitura.
A apresentação dos elementos imagéticos deverá dar ao observador uma clara leitura tanto da imagem, como do texto a ser utilizado.
Deve-se ter presente ainda a questão dos planos fotográficos utilizados; O close-up, termo inglês que denomina o primeiro plano, deve ser utilizado para destacar detalhes do assunto ou mesmo o evidenciar em suas particularidades e qualidades.
O plano médio geral, também chamado de plano americano, que visa mostrar de maneira mais próxima a cena do que o planto geral. Este plano, quando utilizado com personagens, tem a tendência de ter o enquadramento ao nível dos joelhos da pessoa para cima.
O plano geral, anteriormente citado, tenta situar o observador no ambiente onde é realizado a tomada de cenas.
Existem ainda os planos médio e plano detalhe, onde a pessoa é mostrada da cintura para cima e o plano detalhe onde o objeto ou assunto registrado ocupa toda a tela. Percebe-se assim que a utilização dos planos vai ressaltando conforme o roteiro, as cenas fotográficas objetivas e as cenas fotográficas subjetivas.
Outro fator importantíssimo a ser observado é o enquadramento das cenas a serem registradas, e deve-se ter cuidado com as folgas em demasia com relação ao assunto e a cena e dos enquadramento apertador, que engessam a cena.
A composição a ser utilizada que determina a distribuição do assunto na cena deve ter um cuidado especial, principalmente com relação ao uso de composições dispersivas, onde objetos e assuntos secundários roubam a cena central a ser registrada, como a utilização de composições pobres, onde apoios ou reforços visuais de objetos poderiam valorizar o assunto central.
Finalmente, realizado a captura das imagens, se passa para a realização de uma seleção visual de todo o material obtido, onde o responsável pelo audiovisual deverá envolver-se na avaliação e a seleção de imagens de acordo com o objetivo do trabalho e com a legibilidade textual a ser inserida, de forma que os caracteres a serem utilizados valorizem o tanto a imagem como o texto usados.
Nesta etapa o diretor deve observar o uso de uma dimensão mínima de tamanho dos caracteres para a compreensão do audiovisual e também a uma altura máxima dos mesmos caracteres, de forma que não ultrapasse o senso estético para a apresentação.
A elaboração de um Layout bem estudado garantirá a legibilidade e a possibilidade de uma apresentação progressiva e bem sucedida do audiovisual. Finalmente a inclusão da trilha sonora e a marcação para a mudança sucessiva das imagens garantirão o sucesso do audiovisual.
Feito estás premissas sobre a áudio visualidade, ressalta-se que foi assim, dentro desta lógica que se realizou o trabalho sobre o projeto fotográfico da Ilha dos Marinheiros.
O estudo prévio sobre o Ilhéu morador da ilha foi fundamental para que a abordagem sobre os temas objeto de estudo tivessem sucesso e conseguissem reunir em um amplo leque de informações o que se desejava mostrar sobre a realidade geográfica, cultural, social e religiosa do nativo daquele lugar.
O cotidiano de suas relações interpessoais e com a natureza que os condiciona, limita e rege o seu viver, tornaram possível descobrir e registrar o seu relacionamento com o sobrenatural, e portanto descortinar os segredos daquela sociedade insular e desvendar os motivos do seu agir
O ato de ver não é uma coisa natural, ele necessita ser aprendido. Foi Nietzsche quem afirmou que a primeira tarefa da educação seria a de ensinar a ver.
A escolha de usar da fotografia no trabalho de pesquisa na Ilha dos Marinheiros, foi baseada no caso de que ela permite uma forte constatação visual da realidade, de forma a fazer com que o homem, o observador, possa se reconhecer dentro do processo histórico pois, “(…) a formação do conhecimento ocidental se faz pelos sentidos, principalmente pela visão” (RECUERO, 2006:200 in Ecosrevista). Afinal, sabe-se que “a máquina fotográfica não se apresenta como um remédio para nossas limitações visuais, mas como um auxiliar para nossa percepção”(COLLIER JR., 1973:01).
Após a decisão de se usar as fotografias como forma investigativa no trabalho, cabia a escolha do “como” fazer, pois ver fotografias apenas em anexos de trabalho é frustrante. Olhá-las apenas como ilustrações ressaltava a existência de um abismo entre o visível e o dizível, entre o potencial de comunicação do processo fotoetnográfico como fator de comunicação e a opção pelo uso do texto com uma ilustração sobre o que se escrevia.
A percepção de que a compreensão da realidade era maior quando a mesma se tornava disponível, através de fotografias, diante do olhar era no entanto uma constatação do valor de se utilizar imagens fotográficas como narradoras da realidade etnográfica.
Assim, a escolha de usar a fotografia como o fio condutor, não foi um acaso e nem uma escolha pioneira ou experimental, mas fundamentada na bibliografia existente, que conciliava a formação de comunicador social, fotógrafo com uma experiência de mais de 40 anos. A curiosidade investigativa sobre o uso da fotografia nas ciências sociais e em especial na antropologia visual e na fotoetnografia, por parte deste pesquisador, poderia ser resumida no falar do filósofo da fotografia Henri Van Lier quando diz;

(…) Après tous lês caractères que nous venons de parcourir, la photographie se situe peu-être lê mieux grace à lòpposition quòn fait souvent aujourd`hui entre lê téel et la realité. (VAN LIER. 1983:42).


A leitura do livro de John Collier Jr. “Antropologia Visual – A Fotografia Como Método de Pesquisa” (1974), do livro “Balinese Character – A photographic analysis” (1942), de Gregory Bateson e Margaret Mead, do livro “China and the people” (1851) de John Thonsom, o livro “How the Other Half Lives, New York de Jacob Riss (1888), e dos clássicos livros de Lewis Hine (1932) “Men at Work. Photographic Studies of Modern Men and Machines”, “Women at Work. 153 photographs”e “Kids at Work, e o filme “Nanook – of the North”(1922) de Robert Fkaherty, foram de certa forma um balisador, para nortear a realização do trabalho e fundamentar a busca dos objetivos pretendidos no uso da imagem visual, marca inapagável desta época, como forma de narração da investigação pretendida.
O Trabalho de Luiz Eduardo Robinson Achutti “ Fotoetnografia: um estudo de antropologia visual sobre cotidiano, lixo e trabalho”, (1997) realizado com mulheres em uma vila da cidade de Porto Alegre, e fruto da sua dissertação de mestrado, na Urgs, foi esclarecedor e o marco para se aprofundar na pesquisa sobre a Antropologia Visual, sobre a Fotografia Documental e fundamentar o uso da “Fotoetnografia” e também para preparar outra alternativa para se trabalhar a imagem fotográfica em trabalhos científicos.
Elaborar um trabalho de comunicação visual, na área de ciências sociais e de cunho antropológico, com a utilização de imagens fotográfica, exige um minucioso planejamento e uma construção, que deve ser muito bem elaborada.
Quando se pensa, que a interação entre os registros verbais e os registros visuais que como diz Samain, ao falar sobre o livro de Bateson e Mead, “Balinese Character”, devem ser “(…) concebidos como verdadeiras fontes de pesquisa e não apenas como meras e possíveis ilustrações” (SAMAIN. in ALVES, 2004: 53), definem e caracterizam a importância da fotografia, no caso, para a realização do projeto fotográfico sobre a Ilha dos Marinheiros.
Percebe-se que as fotografias passam então a adquirir uma importância maior do que a de meros fragmentos do observado. Elas adquirem o poder de valerem “mais do que mil palavras”. Elas são imagens refletidas de uma realidade e assim gravadas para o todo sempre.
No entanto, as imagens fotográficas necessitam de uma eloqüência maior, a fim de mostrarem, narrrarem e recordarem, a realidade espistemológica que procuram retratar de cada fenômeno gravado. A sua subjetividade “natural”, inerente da fotografia, necessita de um aliado, de forma que conjuntamente possa contribuir para uma melhor narração do fenômeno.
O texto foi a escolha mais racional. Mas, a forma da sua utilização, era a dúvida e a questão a ser trabalhada, pois, não se pretendia utilizar a fotografia, como mera ilustração de palavras, como até então é utilizada pela maioria dos pesquisadores.
O método Fotoetnográfico, desenvolvido por Achutti não preenchia, no caso, os anseios e a forma que se pretendia dar ao trabalho. O Fato de usar o texto em determinados momentos e a imagem simples e pura em outros, nos colocava dúvidas quanto a eficiência na narração de um dos objetivos específicos que nos propúnhamos, o de relatar as festas religiosas, que são repletas de gestos e linguagens do corpo, e que necessitavam em alguns momentos o uso conjugado do texto tradicional para uma maior compreensão do trabalho visual registrado.
A imagem não é um equivalente ao texto. Ela não possui a capacidade enunciativa da linguagem escrita tradicional, mas traz consigo algumas particularidades que vão além do olhar e do ver, mas que fazem pensar, por ser “(…) uma representação das representações”(SAMAIN, in ALVES, 2004: 71), pois vão adquirindo então uma imperturbável imutação desta realidade registrada, que ali aprisionada mostra o que diz Sontag “(…) o qüão irreal e remota é a realidade.” (SONTAG, 1981: 157).
Outro elemento importante no desenvolvimento desta constatação, vai de encontro ao modo como o leitor deve procurar agir a respeito e que diz Achutti como deve ser feito ao “(…) dar a mesma importância à linguagem escrita e a linguagem visual, fotográfica, no caso”(ACHUTTI, 2004: 73), na leitura destes trabalhos.
Assim, como se ordena as letras, as palavras e as frases, para se enunciar uma informação, as fotografias necessitam também desta organização, de forma a fazerem o observador pensar, através da simbolização da realidade que, elas, trazem consigo, como Aumont descreve que “(…) a imagem tem dessa maneira a capacidade de transmitir e talvez, de fabricar reflexão no que diz respeito ao mundo.”(AUMONT in SAMAIN in ALVES, 2004: 71).
Se o que a fotografia apresenta é provas da realidade como diz Sontag, e que quando temos dúvidas sobre a sua veracidade, ela “(…) parece-nos comprovada quando dela vemos uma fotografia”(SONTAG, 1981:05), então, estas imagens são capazes de fazer conhecer, e completar o que o texto tradicional não consegue descrever a respeito de determinados fenômenos e experiências.
A fotografia que antes ilustrava galerias, informava em jornais e anunciava o consumível, agora, ela, busca no seio da ciência o lugar que ela lhe julga reservado. Não ser arte mas, conter a arte. Não ser a realidade, mas, conter a realidade. Não ser a ciência, mas mostrar a ciência, pois é dotada, quando bem utilizada, de uma narrativa eloqüente.
Portanto, a responsabilidade da realização de um trabalho cientifico utilizando imagens fotográficas deve se render à honestidade e ao bom senso o qual deve prevalecer na captura destas cenas, assim como deve ser a realização das anotações feitas no caderno de campo tradicional de uma pesquisa antropológica.
Assim ao se elaborar uma pesquisa etnográfica o acervo repleto de informações que deve ser elaborado, e que vai além das simples anotações, sejam visuais (fotográficas ou cinematográficas) ou as realizadas de maneira tradicional no caderno no campo, devem constituir-se de um rigor cientifico idêntico nas suas formas de obtenção.
Barthes(1981) já dizia “no fundo a fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa”, assim o objetivo deste trabalho também é o de ao utilizar a fotografia desta forma, fazer ver e pensar contribuindo para o desenvolvimento da antropologia visual.
Se Achutti chama de Fotoetnografia “(…) o resultado de um exercício utilizando-me da fotografia, no sentido da constituição de uma narrativa etnográfica”(ACHUTTI, 1997: 15), este pesquisador denomina de “Fotoetnotextografia” o método que contempla o uso da fotografia como discurso em narração de trabalhos científicos e utilizada com a mesma importância do texto tradicional, no corpo do trabalho, podendo estar intercalada entre o texto e legendada ou só como narrativa visual, sem a presença de palavras na descrição de fenômenos sociais. A esta forma de utilização denominou-se de Fotoetnotextografia.
Ao se confrontar a Fotoetnografia e a Fotoetnotextografia para se apurar as suas diferenças e semelhanças, pode-se afirmar que elas possuem mais semelhanças que diferenças. Todavia, o que as difere, seria a forma como o texto é utilizado em conjunto com a imagem fotográfica. Ao passo que na Fotoetnografia vem os textos visuais e depois os textos tradicionais, ou vice –versa, na Fotoetnotextografia os mesmos textos visuais (fotografias) e os textos tradicionais interagem dentro do mesmo.
Ao se sentar para concluir o trabalho sobre a Ilha dos Marinheiros, percebeu-se a qualidade técnica do material fotográfico obtido e a enorme quantidade de imagens fotográficas, resultado de quase dez anos de constante captura fotográfica realizada na Ilha.
Apesar da enorme quantidade de fotografias realizadas se percebeu que se tinha mais de 10.000 imagens digitais e cerca de 3.500 imagens analógicas, sobre a ilha, sobre o povo e suas atividades culturais, sobre aspectos sociais e as festas religiosas.
A partir de então, realizou-se uma seleção das imagens capturadas por este pesquisador e as realizadas por seus colaboradores, de forma a se realizar uma avaliação e seleção do material visual disponível.
Como se havia estudado sobre a produção de audiovisuais e se observado de forma participativa a todos os fenômenos registrados, sabia-se como elaborar um texto visual coerente, privilegiando através da escolha da melhor imagem fotográfica para realizar uma melhor narração da descrição visual do fenômeno observado.
Tinha-se presente o fato de que, assim como um parágrafo não desvenda um texto, mas é um conjunto de parágrafos que descreve o observado e dizível com palavras. Pois, nada é feito de forma desordenada, ao se narrar, pois foram as palavras agrupadas de maneira a dar um sentido lógico, e formar um código decifrável, para poderem dar uma compreensão ao que se narra, com as fotografias não deveria ser diferente.
Com as fotografias se deveria trabalhar o seu potencial narrativo, procurando entre as imagens realizadas disponíveis, aquelas que reunissem um bom potencial narrativo – descritivo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O uso da fotografia como discurso: o caso das festas populares religiosas na Ilha dos Marinheiros.

Carlos Leonardo Recuero, Lyl Rejane Recuero, Rebeca Recuero, José Antonio Recuero e Maira Recuero

As culturas populares expressam seus saberes através de manifestações repletas de significações e expressões muitas vezes indizíveis por palavras ou textos tradicionais. A memória e a tradição oral dos povos latino americanos, independente de suas vertentes étnicas e culturais possui uma vertente única. A origem de ameríndios e basicamente de portugueses e espanhóis, forjou uma religiosidade latina americana, fundamentada no cristianismo.
Entretanto, a diversidade que existe contraria aos ensinamentos cristãos que prevê à unidade aos seguidores de Cristo, gerou uma beleza única à cada evento popular religioso que ocorre na America Latina.
Este trabalho apresenta, mais do que uma narração tradicional um discurso visual, onde a fotografia é utilizada como o principal caderno de campo no estudo das manifestações religiosas e populares na Ilha dos Marinheiros.
A Ilha dos Marinheiros é a maior ilha da Laguna dos Patos. A Laguna dos Patos, erroneamente considerada como lagoa, fica localizada no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Com uma área de 39.280.854,60 m2 e tendo desta área 12.583.711,00m2 de lagoas, areais e dunas a Ilha dos Marinheiros está localizado no noroeste geográfico a 32O. De latitude sul e 52O.6`de longitude oeste e possui uma configuração que pode ser denominada de circular.
O nome originou-se pelas constantes idas à ilha por parte dos marinheiros da armada de Silva Paes, em busca de madeira e água potável para o abastecimento do forte, que em 1737 foi fundado a uma distância de 1,5 km através co canal da Lagoa dos Patos e que originou a cidade do Rio Grande.
A Ilha dos Marinheiros esta dividida em quatro regiões, denominadas por seus habitantes como Bandeirinhas, Porto do Rey, Marambaia e Fundos da Ilha. Tem hoje uma população estável de cerca de 1.500 pessoas, sendo a maioria composta por velhos e crianças. Os adultos e os jovens com maior capacidade de produção migram para o continente em busca de melhores oportunidades e em algumas vezes como uma forma de fuga da dura vida que os pescadores – lavradores da ilha levam.
A identidade do ilhéu é formada com base nos mecanismos de apropriação dos recursos do mar e na exploração de uma agricultura familiar rudimentar. As construções identitárias e sociais se elaboram a partir das dimensões imaginárias das representações culturais que foram forjadas no grupo por uma herança mítica e religiosa própria de habitantes insulares.
A íntima ligação do ilhéu com a natureza e os fenômenos naturais, próprio de culturas que fundamentam sua sociedade na retirada e captura de recursos naturais, forjou a fisionomia antropogeográfica do homem da ilha. Nesta formação muito contribuiu a herança religiosa portuguesa. O isolamento natural que determina as culturas insulares, o primitivismo social e sobretudo as relações que estabelece com o mundo do desconhecido, submetido às forças da natureza, dos ventos e das mares, é o que caracterizam no dizer de Marques o pescador-lavrador:
“(...) Temente a Deus e aos seus santos padroeiros”, “(...) mas deixou-o ainda supersticioso. Receia o sobrenatural; crê em mitos; usa “bentos”, talismãs. Utiliza-se de ‘rezas’ especiais para afastamento dos ‘mau spirito’ e do ‘mau olhadu’. Teme os ‘mau agoro’ e uma serie de coisas ‘qui não presta dizê ou fazê’; protege sua casa com ‘registo de santo’. (MARQUES, 1973:16)
A cultura insular ilhéu caracteriza-se por ter uma relação com o sagrado, com mitos e lendas que compõem o imaginário coletivo desta população. O mundo invisível dos espíritos só é passível de compreensão, através do diálogo entre a cultura, a memória e a devoção presente nos gestos, olhares e formas de comportamento presentes nas manifestações religiosas organizadas em homenagem aos santos padroeiros. É o agir e o fazer realizado como linguagem comportamental que irão estabelecer as relações com o mundo dos espíritos, rompidas pelo cotidiano da vida.
A manifestação religiosa de pessoas simples em busca da salvação divina e pelo paraíso, realizadas nas festas religiosas em pró do santo padroeiro, são uma contraposição ao agir realizado durante o tempo profano cotidiano exercido na existência terrena e exigem “negócios com o divino”, como o pedir, prometer e pagar.
Portanto, todas as maneiras de manifestação religiosa, como a retribuição das dádivas recebidas na troca ainda que mística de favores divinos, das promessas realizadas, de trocas de pedidos e orações e oferendas fazem da festa um acontecimento sagrado e “(...) santificado pelos deuses e suscetível de tornar-se presente pela festa”(ELIADE, 2001.:65) e exige do ilhéu devoto participar para agradar os deuses pois a troca entre o divino e o homem deve ser efetivada para estabelecer condutas sociais e comportamentos que deverão reger o grupo social até a próxima festa.
Por outro lado, existe como diz Mauss uma obrigação de dar e de receber, pois “(...) não implica só a obrigação de retribuir os presentes recebidos; ela supõe dois outros igualmente importante: a obrigação de os dar, por um lado, e a obrigação de os receber, por outro”(MAUSS.2001.67).
Assim, se percebe que a festa é repleta, não só de uma atmosfera religiosa de fé e devoção, mas é repleta de acontecimentos que visam reparar as pequenas e grandes transgressões realizadas para se obter uma re-inserção no mundo profano, de uma nova maneira e com um novo status como diz Van Gennep(1978).
Este acontecimento sócio – cultural é repleto de signos e significados. É neste momento religioso-social que o homem simples, submetido a natureza do tempo cíclico da vida e, distante da submissão sufocante da cidade grande e do modernismo globalizante, re- estabelece a ordem do grupo social.
As festa religiosas são ritos de passagem que servem também para aumentarem a coesão do grupo social, estreitarem laços familiares e reavivarem as relações de parentesco. Este processo, na Ilha dos Marinheiros, é ainda uma forma de definição de identidade étnica que define o grupo nativo e os outros.
A invenção da fotografia “(...) abriu à antropologia novas possibilidades de trabalho, como objetivar aspectos da realidade que antes não passavam de meras impressões (GURAN, in ACHUTTI, 1998: 88), uma vez que a natureza vai se substituindo a cada momento, mudando o anteriormente visto.
A expressão de Lévi-Strauss “mirar, escuchar, leer”(LEVI-STRAUSS, 1992:xx) deve ser entendida não só como uma análise de seu trabalho, “(...) mas como uma indicação de que o uso dos sentidos da visão e da audição devem ser preparados pelo antropólogo, para a sua utilização, não só pela percepção do real, que é amplamente visual e auditivo, mas como outra fonte de novas observações seguras sobre a cultura, tomadas com a utilização da ‘reprodutibilidade técnica do real’, e realizadas pelo aparato fotográfico”(RECUERO.2008.36) .
Assim a utilização da fotografia como ‘método de observação’ sugerida por Mauss em seu “Manual de Etnografia” (2006), a observação participante de Malinowski aventada no livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” (1968) como forma de efetuar uma pesquisa de campo antropológica e etnográfica, são completados como método desta trabalho com as orientações de Collier Jr., e “A Utilização da Fotografia Como Método de Pesquisa”(1973), são os elementos chaves na elaboração deste trabalho com o uso da Fotografia como discurso: o caso das festa populares religiosas na Ilha dos Marinheiros.
A escolha da fotografia como fio condutor se fundamenta na bibliografia existente sobre antropologia visual, pois como diz Samain ao falar sobre o livro de Bateson e Mead “Balinese Character Photografic Analysis”, como fonte de pesquisa em ciências sociais “(...) concebidos como verdadeiras fontes de pesquisa e não apenas como meras ilustrações”(SAMAIN in ALVES, 2004: 53).
Finalmente sobre o uso da fotografia como método usa-se a premissa de que “(...) a fotografia implica, de nossa parte, um conhecimento e uma aceitação do mundo tal como a câmara o registra”(SONTAG, 1981:22).
Para a investigação sobre as festas religiosas na Ilha dos Marinheiros, se participou de todas as festas religiosas que ocorreram nos últimos três anos. Foram realizadas cerca de 9000 fotografias digitais e 2000 fotografias analógicas em preto e branco e a cores. As festas foram fotografadas desde a sua preparação, organização e a festa propriamente dita, com todos os ritos existentes.
Ao se dar a mesma importância da imagem fotográfica ao texto tradicional, não se abriu mão do tradicional caderno de campo e de entrevistas orais, alem da observação imerso na comunidade. Assim, durante os tres anos foi possível reunir uma infinidade de informações, sobre a tradição popular dos festejos, sobre a escolha dos santos padroeiros, sobre os ritos religiosos e sobre as manifestações individuais dos ilhéus.
Se o que a fotografia apresenta é provas da realidade, a ordenação das imagens fotográficas obtidas de forma a comporem um texto visual sobre as manifestações sociais como forma de recriarem as relações interrompidas com os santos padroeiros e conseqüentemente com o mundo dos espíritos.
As imagens apresentam o rito, a magia, a piedade e a fé destas relações com o sobrenatural, mostrando como o ilhéu através da linguagem do corpo e de suas variantes, estreita as relações com os espíritos do céu e os espíritos da terra e da água renovando com as divindades contratos que regem o modo de viver social e culturalmente naquela sociedade ilhéu.
Percebe-se ao final do trabalho que os Ilhéus fundamentam sua vida e suas relações sociais nos preceitos do cristianismo trazido pelos colonizadores, com forte características latinas e hispano-portuguesas. Que as exteriorizações dos aprendizados feitos através da visualização das práticas devocionais nos acontecimentos religiosos e festas, determinam na memória do grupo social nativo, as maneiras de agirem com vista as suas relações com o mundo sobrenatural
Que o uso da fotografia como método discursivo, neste caso, mostrou-se eficiente, pois a duplicação da realidade efetuada pelas imagens fotográficas foram mais persuasivas que a observação presencial, talvez devido a existência do movimento, que é perturbador para o ser humano.
A mediatização da fotografia com o uso do processo fotoetnográfico no estudo cientifico social é uma dessas novas tecnologias hipertextuais que o trabalho de campo deve incorporar, como forma de gerar uma compreensão maior e melhor dos seus objetos de estudo, reforçando o diálogo pendente entre a academia e o saber popular.
Bibliografia
ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. (Org) Ensaios Sobre o Fotográfico. Unidade Editorial.Porto Alegre. 1998.
ALVES, André. Os Argonautas do Mangue. Editora Unicamp.Campinas. 2004.
COLLIER JR. John. Antropologia Visual: A Fotografia como Método de Pesquisa. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo 1973.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A Essência das Religiões. Editora Martins Fontes. São Paulo.2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. Um Relato do empreendimento e da Aventura dos Nativos nos Arquipelágos da Nova Guiné Ocidental. Coleção os Pensadores. Editora Abril.São Paulo. 1978.
MARQUES, Lilian Argentina B. O Pescador Artesanal do Sul. Mec. Funarte. Rio de Janeiro. 1980.
MAUSS, Marcel. Ensaio Sobre a Dádiva. Edições Lisboa. 2001.
RECUERO, Carlos Leonardo. Dissertação de Mestrado. A Ilha dos Marinheiros: um estudo fotoetnotextográfico do ilhéu, seus mitos e a sua religiosidade. UFPel. 2008.
SONTAG, Susan. Ensaios Sobre a Fotografia. Editora Arbor. Rio de Janeiro. 1981.
VAN GENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Editora Vozes. Petropolis. 1978

terça-feira, 2 de setembro de 2008

De Etienne Samain, divulgo

O Antropólogo (E TODO ser humano) procura observar, conhecer e entender o “real”, esse campo vastíssimo da “realidade” humana. Um campo ou, melhor dizendo, um organismo em constante ação e interação, em constante trabalho de parto, de luto e de renascimento. Um gigantesco território vivo, recortado, no tempo e no espaço, por histórias, memórias, imaginários; atravessado por símbolos, sonhos e novos recomeços. Eis o que procuramos definir minimamente, quando falamos de “culturas” humanas. Delas, todavia, podemos entrever apenas o que oferecem à nossa observação e à nossa experimentação , isto é, representações do real. De tal modo que toda tentativa de compreensão dos fatos de cultura nunca será outra coisa senão representação de representações, isto é, no melhor dos casos, o esforço de uma nova contextualização, de uma nova enunciação e de uma inevitável interpretação destes mesmos fatos. Esforços que procuramos edificar, recorrendo a palavras, sons, gestos, imagens, gritos e, até, a silêncios. Pois não é inútil lembrar que, sem meios de comunicação, sem suportes comunicacionais, não existiriam as sociedades humanas, menos ainda as culturas, que os homens constroem através e com o auxílio desses suportes.

Etienne Samain. 2004.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Falando sobre a Ilha e o Ilhéu

Esta comunidade intensamente ligada às águas, vive a dualidade terra-água em torno da qual se desenrola todos os aspectos sócio culturais e se cria uma identidade insular. O pescador artesanal que vive do mar, estabelece particularismos simbólicos, típicos de culturas marítimas, e totalmente diferentes dos chamados “continentais”.
A sobrevivência da captura da pesca, o coloca diante da lentidão do tempo cíclico da natureza, e esta relação aliada ao isolamento geográfico, o faz voltar o olhar para suas relações com os ventos, com as águas, com o tempo, com o oceano e adquire no imaginário inconsciente a necessidade da paz com sobrenatural, “(...) esse oceano era também a morada de monstros”(DIEGUES, 1998: 79) e vê na cruz o símbolo desta relação estabelecida com o divino, com o sagrado, de fato ela oportuniza uma ligação e simboliza a unificação dialética com o transcendental.
Assim, o significado da natureza como lugar dos deuses, e por serem os Deuses, como reza a crença e as lendas que “(...) são eles os verdadeiros proprietários das coisas e dos bens do mundo”(MAUSS, 2001: 61) direciona para o estabelecimento deste contrato, que permitiria a possibilidade de navegar no mar , de realizar a “travessia”. Este símbolo deve ser interpretado em toda a sua dimensão como um rito de passagem, pois de fato percebe-se pela história do próprio homem, seja pela mitologia grega ou através da “expedição dos argonautas”, ou mesmo a “Odisséia” e a lenda da “barca de Caronte”, que o homem trava uma relação mitológica profunda com as águas e com o mar.
A forte relação com o “mundo” das águas, aumenta o sentimento de pertencimento a um modo impar de vida. “(...) pescadores artesanais possuem o sentimento de pertencimento, implícito à realidade geográfica documentada no ímpar modo de vida”( LIMA, 2003128). São estas noções simbólicas que coexistem entre o tempo cíclico da vida terrena e o imaginário simbólico que remete a relação com o sobrenatural, explicitado na festa do santo padroeiro.
A afirmação de Gislaine Garcia de Faria de que “(...) o lugar não expressa vínculo de propriedade, mas sim uma rede de relações” (FARIA, 1998:79) remete ao sacro-religioso desta comunidade praieira, onde a dialética entre os mitos próprios da gente da lide com o mar, se reúnem na historicidade do lugar com a fé cristã herdada dos primeiros colonizadores portugueses que habitaram o lugar.
A comunidade da Marambaia possui características próprias. Embora, siga os mesmos ritos das outras duas comunidades existentes na ilha. A relação com o sagrado realizada tem uma forte conotação com as relações de trabalho e com a relação dos pescadores, e a sua mística com o mar e a natureza.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Ilhéus

A Marambaia, é um espaço ocupado por pescadores artesanais. Ali, todos possuem um vínculo que engloba desde as relações de parentesco, as relações de trabalho em um único modo que rege a vida da comunidade. O ser pescador!
Homens afetos a vida do mar, a separação que este lhes impõe, formam e possuem uma identidade particular, que caracteriza o homem insular, que vivendo em um território geograficamente demarcado e limitado, estabelece uma cultura definida com práticas sociais e simbólicas desenvolvidas sempre em unicidade com sua relação com o mar.
Esta sociedade insular, como diz Diegues “(...) Dadas as incertezas, os imponderáveis climáticos e de mercado” (DIEGUES,1998: 59), estrutura-se baseada em um conhecimento empírico do mundo em que vivem, pois impedidos de influenciarem no tempos cíclico que rege as suas atividades, devem a ele se moldar.
Seus atores sociais, formulam um viver, que se por um lado se estrutura na tradição e no saber milenar da arte de viver em uma ilha, depender do mar e de suas conseqüências espaciais e geográficas, por outro estabelece um viver mágico-religioso.
Os habitantes em sua maioria pescadores que vivem a insegurança que marca a oposição do habitante insular ao continental, guardam arraigados em seu imaginário, o mítico e o sagrado, que rege as suas relações com o sobrenatural. Pescadores que vivem da “(...) apropriação material de recursos renováveis e móveis, coloca problemas relevantes na análise da relação entre o homem e a natureza” (DIEGUES,1983: 07), caracterizando uma estreita relação com o mundo da natureza.
Herdeiros naturais, das utopias sociais que envolvem as ilhas e seus habitantes, Os ilhéus, são os protagonistas da sua própria historicidade e transformaram estes ambientes considerados no passado, como impróprios para a vida humana, em seus espaços sociais, culturais e históricos, indo além do apelo imaginário e mágico, que as ilhas e seus habitantes despertam na psicologia do homem moderno.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

As origens Portugal x Brasil

A Origem Portuguesa

A Ilha dos Marinheiros: duas maneiras de contar.
Breve história e origem do nome


A história da Ilha dos Marinheiros, segundo Azevedo (2003: 36), diz que inicialmente, antes da vinda dos primeiros colonizadores, a Ilha era ocupada por indígenas, identificados por Ruivo (1994) como integrantes da tribo dos Minuanos, povo nômade que nela pescavam, caçavam e cultivavam alimentos para sua sobrevivência, quando ali se instalavam no verão.

Em 1737, o português Silva Paes desembarcou em Rio Grande para formar um núcleo de fortificação e de auxílio à Colônia de Sacramento. As constantes batalhas com os espanhóis obrigaram a Coroa Portuguesa a construir um fortim e povoar as terras próximas a barra do canal, lugar considerado estratégico para a consolidação dos domínios de Portugal. Segundo Maciel em seu trabalho “A Educação Ambiental como instrumento na busca de soluções para os problemas socioambientais na Ilha dos Marinheiros” (1998). “As fortificações, casas, quartéis e demais obras eram feitas de madeira, pau-a-pique e barro” (QUEIROZ, 1987:67).

Estes soldados deveriam construir uma vila e uma fortificação, sobre as dunas de areia, que caracterizavam a região e que geravam imensas dificuldades. Pela localização e a estrutura costeira, os marinheiros foram encarregados então de conseguir água para o consumo e madeira para essas fortificações, e foram buscá-las na Ilha próxima, onde eram abundantes e de boa qualidade. Segundo Décio Neves “a península do Rio Grande era circundada por inúmeros capões de mato, compostos, sobretudo, por muito boas madeiras, inclusive a grande Ilha dos Marinheiros” (NEVES, 1981:65).

O povoamento da ilha se processou baseado no interesse das vantagens que a Ilha dos Marinheiros oferecia para a atividade agrícola e pesqueira, e que eram até então exploradas, somente pelos nativos indígenas. Transformada inicialmente em três sesmarias doadas a primeira ao Capitão Antonio Gonçalves dos Anjos, a segunda a Antonio de Araújo Vilella e a terceira a Antonio Gonçalves Pereira de Faria (NEVES, 1981:72). Foi reconhecida inicialmente como “A Ilha dos Três Antônios” (FREIRE, 2003:19), e que a historiadora Azevedo (2003) também retifica no livro que conta a história da Ilha dos Marinheiros, ao chamar o livro de “A Ilha dos Três Antônios” (2003).

Segundo os registros de João Borges Fortes, uma nova doação de terras da ilha foi feita em 1744, “(...) a Marçal da Silva Veiga, o que deve indicar que efetivamente não ocorreu a ocupação dessas terras por parte dos sesmeiros anteriores” (RUIVO, 1994:151).

Sobre a origem do nome da ilha, Ruivo, ao citar Freitas (1980), acrescenta um dado importante referente a importância da Ilha na época da fundação da povoação no continente, e a origem do nome que davam a ilha, referindo-se ao ano de 1780 e ao relatório feito a Coroa por Sebastião Bettamio, o qual escrevia a respeito da Vila de São Pedro, atual cidade do Rio Grande, dizendo:

Defronte da vila em distância por mar de uma légua, está uma ilha chamada dos Marinheiros, na qual tem sesmarias e datas de terras de alguns particulares, e como dali vem as lenhas para a vila pelas não haver – mais próximas, forma isentas da sesmaria e datas, assim as lenhas como os capins que servem para coberta de casas, a fim de que tanto a Fazenda Real como os moradores da vila se poder em livremente utilizar das ditas lenhas e capins. (FREITAS, 1980:159).

Portanto, as constantes idas à ilha, por parte dos marinheiros, levaram que a população residente em Rio Grande de São Pedro a batizassem de Ilha dos Marinheiros. “O nome da Ilha dos Marinheiros originou-se pelas constantes idas dos marinheiros da armada de Silva Paes ao local para buscar água potável e lenha” (PIMENTEL, 1944: xx).

Saint-Hilaire diz em 1820 em sua passagem por Rio Grande “(...) grande parte da Ilha dos Marinheiros era coberta de mato e que lá se buscava a lenha necessária, mas era reservado ao consumo do hospital, ao corpo da guarda e aos pobres, a quem se permitia ir ali corta-la” (SAINT-HILAIRE, 1987: 66).

É importante ressaltar, que a ilha além de fornecer madeira para a construção do fortim no continente, era também o centro fornecedor de água potável para a vila de Rio Grande de São Pedro, sendo no entanto considerada como um local inóspito para se viver, apesar da fertilidade do solo. Os registro de Saint-Hilaire dizem, quando de sua visita ao sul em 1820 “(...) Ali se encontra uma excelente água cuja qualidade poude julgar, pois era a que se bebia à meza do Major Matheus” (SAINT-HILAIRE, 1987:66).

Ao se consultar os arquivos históricos do Rio Grande do Sul (1977), se percebe que a ilha também teve outro papel, pois segundo Ruivo, o arquivo histórico do Rio Grande do Sul, em seus anais (1997: 159) diz que “A ilha foi utilizada como presídio [...], o negro do sargento mor causa da última desordem, seja remetido para a Ilha dos Marinheiros por tempo de três meses” (RUIVO, 1994: 151), quando se refere a Revolta dos Dragões, ocorrida em 1742.

Os anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, apresentam à página 177 e 178 o seguinte relato sobre a Ilha, compilados por Ruivo;

(...) soldado dragão da Companhia do Tenente-coronel, que ele suplicante se acha preso neste Corpo da Guarda à ordem de V.Sa., por se retirar do pesado serviço que estava ocupando na ilha do Marinheiro para esta povoação, por entender se ajustava com o amplo patrocínio de V. As., pois naquela ilha vivia bastante amofinado do trabalho dela, alem de ser mui despido e de todo carecido de quanto se faz preciso a um soldado para poder continuar em sua obrigação e não menos em tão agro serviço (ARQUIVO HISTÓRICO DO RS, 1977:177/178; RUIVO, 1994:151).

Esta imagem de lugar inóspito para se viver, e distante dos lugares civilizados e habitados, de difícil acesso e abandonado é o retrato do que era a Ilha dos Marinheiros no passado, o que, mesmo assim, não impediu que aos poucos, ali se fosse fixando uma população de colonizadores, devido a “(...) suas fertilíssimas terras, propícias à agricultura” (MACIEL, 1998:41), e que foram atraindo uma população de “(...) imigrantes portugueses e africanos que, familiarizados com as atividades agrícolas, foram lá se estabelecendo” (MACIEL, 1998:41).

De fato Dreys passou por ali em 1817 e relata “(...) algumas chácaras e produzem com abundância todas as hortaliças e legumes que lhes pedem” (DREYS, 1961:75).

A ilha foi ocupada por portugueses oriundos de Águeda, Aveiro e da Bairrada, (AZEVEDO, 2003:11) e que ali desenvolveram uma variada gama de plantações de hortaliças, legumes, frutas e videiras, constituindo uma ocupação estável de lavradores e o povoamento da ilha. “Dentro deste lagamar acha-se uma grande ilha, chamada dos Marinheiros, muito fértil. Nela se encontram todos os auxílios necessários para se poder fazer naquele continente uma bem regulada povoação” (GUILHERMINO, 1981:1970).

Este processo de colonização e ocupação geográfica fez com que a ilha dos Marinheiros viesse a se tornar no dizer de Pimentel (1944) “(...) o mais importante centro agrícola do município, com intensa cultura de legumes e frutas, fabrico de vinhos, de que se abastece a cidade e faz exportação em larga escala”. “(...) é a parte mais fértil do município, sendo conhecida como o pomar do Rio Grande” (PIMENTEL, 1944:54), o que evidencia o desenvolvimento da ilha para a época e apontava para uma existência de uma população de moradores e trabalhadores expressivas na agricultura, quase todos de origem portuguesa.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Considerações

Quando se visita a Ilha dos Marinheiros pela primeira vez, fica-se impressionado com a mágica do lugar. Talvez, o olhar ao se debruçar sobre o verde, os ouvidos ao escutarem o borbulhar do mar e o olfato ao perceber aquele cheirinho puro de ar e liberdade, tornem a ilha, parte de um sonho que se teve quando criança. Depois a fantástica acolhida que se recebe dos ilhéus, e o poder partilhar de sua história, seus sonhos, seus anseios e desejos, mostram que a vida é mais do que relógios a ditarem o andar das pernas e o fazer das coisas.

A vida que se percebe ali, é de uma existência fundamentada na exteriorização dos aprendizados feitos através da experiência e do próprio tempo, os quais, datam da época em que os mitos estavam a serem criados e as lendas eram apenas histórias dos acontecimentos ocorridos no dia anterior. Ali se descobre que cada homem antigo é uma enciclopédia sobre a própria cultura e a sua sociedade.

Percebe-se nesse trabalho de dissertação, que a religiosidade, e a fé no sobrenatural, é que ditam a ordem social naquela sociedade. Verifica-se que o indíviduo se adapta ao tempo dos ventos e das marés e faz com que a sociedade insular, embora, corrompida pelo cotidiano da modernidade, busque re-encontrar no tempo mítico, o sagrado e os valores da própria existência.

É, pois, destes encontros e re-encontros, que o homem da Ilha dos Marinheiros re-estabelece a harmonia com o sobrenatural, e prepara-se para se confrontar com o profano, até a próxima festa, fazendo com que o fato social, ainda que individual, seja a expressão cultural que exprime a geografia social do ilhéu.

Partilhar desta experiência do “marinhense” é uma dádiva, foi uma dádiva, e a obrigação de se retribuir, se faz neste trabalho. Com as imagens fotográficas foi possível, como diz Marc Augé, pela curiosidade do etnológo “devolver(em) àqueles os quais investiga o gosto pelas origens”(AUGÉ.2007.44).

Por outro lado, o papel da fotografia, imagem estática, e utilizada como escritura narrativa, leva o observador a chegar a uma compreensão maior e mais verdadeira dos valores sociais, culturais e rituais dos marinhenses, permitindo um maior conhecimento antropológico e etnográfico desta população, sem ter que ir até o lugar, mas pela observação das fotografias.

É sua condição icônica, que na duplicação visual do mundo, vai descortinando, de forma indélevel, novas visões dos fenômenos sociais, no caso vivenciados pelos ilhéus e registrados pelas fotografias.

São visões estas que na observação presencial, muitas vezes são ineficazes, pois o olhar deixa de apreender pela existência do movimento, que é perturbador para o ser humano e para a visão natural, mas, que a mediatização da fotografia, enquanto processo fotoetnográfico, capta e narra como instrumento cientifico, pois permite a re-observação do mesmo fenômeno.

A cientificidade dos trabalhos etnográficos, antes dominada pela escrita e pelo pensamento narrativo tradicional, com o uso da fotoetnografia, leva a academia agora a curvar-se frente as novas tecnologias hipertextuais, que o trabalho de campo fotoetnográfico vai “desreificando” do próprio exagero do grafocentrismo. Pode-se esplanar o conhecimento científico, também de outra forma, permitindo que a esplanação dos objetos de estudo, contemplem o dialógo entre a grafia tradicional e a imagem.

Estas outras maneiras de apresentar um “ethos” e a imersão cultural e humana existente no fenômeno no campo antropológico, são contemplados não só com a fotoetnografia, mas também com fotoetnotextografia.

Existem ainda duas considerações a serem feitas e ambas se referem à utilização da fotografia na antropologia visual e ao seu uso neste estudo “Fotoetnotextográfico”, feito sobre o Ilhéu, seus mitos e a sua religiosidade na Ilha dos Marinheiros.

A fotografia, mais do que qualquer coisa, descortinou diante do olhar dos próprios ilhéus, a sua vida. Eles se viram protagonistas do seu viver e puderam aprender sobre si mesmos, em um mundo que cada vez se comunica mais por imagens, e tem tanta dificuldade para se enxergar, pois as pessoas se vêem demais.

Percebe-se, finalmente, que este trabalho re-afirma o que já se sabia. Se aprende com o olhar, com as imagens e não se pode tentar, então, explicá-lo somente com palavras, sem a mágica do visual, sem a “áurea”que Walter Benjamim dizia que a fotografia tinha.

É na unidade que está o desfecho para a maioria, senão a totalidade das soluções das dificuldades para se apresentar o “outro”, para se compreender o outro. A imagem fotográfica é uma destas ferramentas, pois ainda apresenta a verosimilhança com a realidade, e é, em muitas vezes, esclarecedora para a compreensão dos fenômenos sociais que se observa.

A interdisciplinariedade dos conhecimentos não pode ser submetida a uma única forma de expressão e descrição. Que caiam barreiras, que se abram os olhos e que a superficie branca de uma folha, ainda imaculada pela ausência de “registros”, absorva tanto palavras como imagens, com a mesma importância científica, na área das ciências sociais.

domingo, 22 de junho de 2008

Falando de Fotoetnografia...

Por outro lado, o papel da fotografia, imagem estática, e utilizada como escritura narrativa, leva o observador a chegar a uma compreensão maior e mais verdadeira dos valores sociais, culturais e rituais desta população, permitindo um maior conhecimento antropológico e etnográfico desta população, sem ter que ir até o lugar, mas pela observação das fotografias.

É sua condição icônica, que na duplicação visual do mundo, vai descortinando, de forma indélevel, novas visões dos fenômenos sociais, no caso vivenciados pelos ilhéus e registrados pelas fotografias.

São visões estas que na observação presencial, muitas vezes é ineficaz, pois o olhar deixa de apreender pela existência do movimento, que é perturbador para o ser humano e para a visão natural, mas, que a mediatização da fotografia, enquanto processo fotoetnográfico, capta e narra como instrumento cientifico, pois permite a re-observação do mesmo fenômeno.

A cientificidade dos trabalhos etnográficos, antes dominada pela escrita e pelo pensamento narrativo tradicional, com a fotoetnografia leva a academia agora a curvar-se frente as novas tecnologias hipertextuais, que o trabalho de campo fotoetnográfico, vai “desreificando” do próprio exagero do grafocentrismo. Pode-se esplanar o conhecimento científico, também de outra forma, permitindo que a esplanação dos objetos de estudo, contemplem o dialógo entre a grafia tradicional e a imagem.

Estas outras maneiras de apresentar um “ethos” e a imersão cultural e humana existente no fenômeno no campo antropológico, são contemplados não só com a fotoetnografia, mas também com fotoetnotextografia.

Existem ainda duas considerações, a serem feitas e ambas se referem a utilização da fotografia na antropologia visual, e o seu uso, neste estudo “Fotoetnotextográfico”, feito sobre o Ilhéu, seus mitos e a sua religiosidade, na Ilha dos Marinheiros.

A fotografia, mais do que qualquer coisa, descortinou diante do olhar dos próprios ilhéus, a sua vida. Eles se viram protagonistas e puderam aprender sobre si mesmo, em um mundo que cada vez se comunica mais por imagens, e tem tanta dificuldade para se enxergar, pois se vê demais.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

terça-feira, 20 de maio de 2008

Fotoetnografando....

O registro fotográfico é a reunião da subjetividade do fotógrafo, acrescida de fatores intelectuais, emotivos, fundamentados em um tratamento expressivo que ele da sobre o significado de ver e registrar a realidade que representa na imagem fotográfica. Este procedimento caracteriza o principal elemento constitutivo da narração visual, a fotografia que intensifica o ato de olhar, gravando a observação do fenômeno, que posteriormente poderá acrescentar a esta imagem muda complementos verbais, se achar que é necessário explicar e interpretar o que a imagem contém.


Porém o elemento constitutivo do trabalho investigativo cientifico, na área das ciências sociais não é fruto apenas uma mera interpretação do visível, assim como a imagem fotográfica não é uma ilustração alegórica da investigação. O trabalho cientifico etnográfico no dizer de Marcel Mauss(2002), adverte para que “(...)tiene como fin la observación de las sociedades; como objetivo, el conocimiento de los hechos sociales. Registra esos hechos, por necesidad establece sus estadísticas y publica documentos que brindan el máximo de certeza”. (MAUSS.2002.21).

domingo, 11 de maio de 2008

O tempo cíclico

Viver sem as horas e os ponteiros do relógio!
Mover-se com as marés, viver no ritmo da natureza, pensar como o vento e circular como o sol.
Eis a natureza da vida, eis o viver do homem que move-se, aproveitando cada minuto do tempo que dispõe...

domingo, 4 de maio de 2008

Dois irmãos, Dois amores, Duas pátrias

Nossa Senhora da Saúde

A capela original construída por portugueses, teve a escolha do nome da santa realizada por simpatia para com a mesma. O fato perdeu-se na memória coletiva, com o passar do tempo, porém nas entrevistas apurou-se que quase todos os fundadores e construtores da comunidade, eram portugueses e de regiões próximas a Espinhel, Ágüeda.

Aponta a tradição portuguesa, que a invocação à santa e a crença em sua intervenção miraculosa que levou ao fim de vários surtos de peste ocorridos em Portugal, teriam feito que fossem erguidas, em sua honra, nas povoações libertas do flagelo, igrejas em sua devoção e agradecimento, popularizando a devoção a Nossa Senhora da Saúde.

Acredita-se, que pela tradição religiosa herdada, os laços de parentesco e afetividade, que os portugueses residentes na Ilha dos Marinheiros, mantém com os parentes residentes em Portugal, mantenham vivo em seu subconsciente este fato, e que na hora de escolherem uma santo padroeiro para a capela que construíram, recordaram-se da devoção a esta denominação dada a Nossa Senhora , a de intercessora para a Saúde.

A antiga capela, que como diz seu Antônio, “ficava lá pro meio dos campos”, com a destruição pelo tempo, foi em 1976 “(...) construída uma nova capela, mudando as características da anterior, que já se encontrava totalmente destruída”.(AZEVEDO.2003. 87). A nova capela foi construída mais próxima da zona produtiva.

A atual capela de Nossa Senhora da Saúde fica ao lado do campo de futebol do Esporte Clube Libertador. Está proximidade ao campo de futebol, a proximidade as algumas residências, a distância que fica da estrada, lhe conferem um ar de coisa privada, de intimidade, pois o seu acesso é feito através de uma estrada, que passa por dentro de uma propriedade come uma porteira, para dar acesso ao campo, ao salão e a própria Igreja.

A data das festas tem sofrido algumas alterações devido ao clima que existe no mês de agosto, o forte do inverno na região, e as adversidades climáticas, características desta época, que castigam a ilha dos Marinheiros, tanto como os ventos oriundos da lagoa dos Patos como os que provêm do oceano Atlântico. As chuvas, o frio, e a situação econômica dos moradores do Fundos da Ilha, também tem contribuído para isto.

A Festa Religiosa

Fim de tarde...

terça-feira, 29 de abril de 2008

A oralidade da lenda... Mitos ????

Assim como diz Mauss; “É da natureza da sociedade expressar-se simbolicamente nos seus costumes e nas suas instituições” (Mauss. 15.2001). , entende-se como a observação das festividades religiosas, no caso as procissões, tem uma relevante importância para o estudo dos resquícios da imigração portuguesa, colonizadora da ilha para a compreensão do grupo étnico social da Ilha dos Marinheiros e da sua relação com o sagrado, com os mitos e as lendas que compõem o imaginário coletivo desta população.

O relato oral de Carocha, pescador da Marambaia e do Bita também pescador

“ Olha nois táva num lugar lá no retiro. sem nada. Não tinha casa, não tinha gente, não tinha nada. Noís muito namorador e ia nos lugar das vila dos outro pescador do norte. Depois nóis voltava a cavalo. Eu e o Bita tava voltando até onde o meu pai tava esperando. Ele tinha acendido um liquinho, para nóis o achar. Tinha muita cerração e tava escuro que nem preto.

Nóis tava a cavalo e no meio do nada, começamo a ouvi risada de mueí. Riam na nossa frente. Riam atrais de nóis. Riam encima de nóis. Isso foi um vinte minuto ouvindo as risada. Olha era as Bruxa! Elas andam atrás de home solteiro. Nois tinha so 28 ano e era solteiro. Mas era as Bruxa! Hoje não se fala mais nisso. Nóis os véio sabemu, mas a gurizada não.”

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A procissão religiosa

A Imagem

Estes dois domínios, o da imagem visual, real e o da imagem mental, remetem o observador para a identificação do signo e da representação. Mas é esta concepção de materialidade da imagem, que é fruto, do processo do pensamento, que levava à Aristoteles a defender a tese de “que o pensamento é impossível sem imagens” (Sobre a memória 450 a.c.).

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Saiu no jornal Soberania do Povo - Portugal

O Jornal, Soberania do Povo, de Portugal da cidade de Ágüeda, publicou a seguinte notícia, dia 23 de maio, alguns dias antes da inauguração do Santuário, intitulado de “BRASIL - ENCANTO N. S. DE LURDES NA ILHA DOS MARINHEIROS”, que se transcreve na íntegra, pois se indo além do que está escrito, pode se perceber a relação que o povo da Ilha mantém com o povo de Portugal, e este com seus descendentes, os ilhéus, que ali residem. Aqui se vê a construção de uma nova “tradição inventada”, .......;

“As obras do Recanto de Nossa Senhora de Lourdes, no Porto do Rey, na Ilha dos Marinheiros (Rio Grande, Brasil), estão em, fase final. O Recanto é um projecto da OSCIP, Sociedade Marinhense de Desenvolvimento Sustentável e que será inaugurado a 26 de Maio.

O recanto é mais um atractivo turístico que será entregue aos ilhéus, aos turistas e visitantes em geral. Trata-se de um templo ao ar livre integrado à natureza. Um local de oração, contemplação, paz e reflexão. Ganhamos um presente. As imagens foram esculpidas por Érico Gobbi e foram doadas com a intenção de dar uma maior desenvolvimento económico a região. Devemos valorizar as imagens também como obras de arte de grande valor artístico.
Um lindo jardim está sendo construído. Grande parte do espaço recebeu calcetamento com pedras rústicas e bancos doados pela prefeitura. Recebemos também de presente um chafariz para embelezar mais o recanto. A doação foi feita pelo economista Fuad Nader, um grande amigo da ilha.
Os recursos para a construção vieram da iniciativa privada. É muito importante essa ajuda das empresas para que possamos executar nossos projectos. Só assim poderemos melhorar a situação dos ilhéus possibilitando a eles novas alternativas de vida. As empresas que ajudam podem deduzir essas doações no imposto de renda e terão homenagem especial de reconhecimento. Foram gastos ali em torno de 150.000 reais.
Nesse local poderão ser realizadas missas, casamentos, actividades religiosas e até didácticas. Foram construídas neste espaço, a casa do zelador, banheiros, altar, palco para actividades artísticas, casa das lembrancinhas e casa miniatura de Santa Bernardete.”.
Senhoras da comunidade já estão se dedicando à produção do artesanato religioso e esperam que o local venha aquecer a economia local. (http://www.soberaniadopovo.pt/portal/index.php?news=1296).

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Amores II

Amores

Trago no peito a força da terra nova e a herança da terra mãe.
No lado esquerdo do peito. Trago a emoção, o amor, o coração, a cultura e a saudade.
Mas também levo a força da vida nova no lado direito do peito....

Amores

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A primeira camiseta do projeto

Falando da Ilha...

O universo insular é como diz Diegues (1998), “(…) um símbolo polissêmico, com vários conteúdos e significados que variam de acordo com a História e as sociedades” (DIEGUES. 1998.13), ao se iniciar este trabalho de pesquisa, na Ilha dos Marinheiros em 1999, se defrontou-se com este mundo em miniatura, este ambiente insular repleto de imagens que se formam a seu respeito, e que são distintas das dos nativos daquele ambiente insular. Limitados por um isolamento geográfico, esta população desenvolveu uma cultura própria e um modelo de sociedade caracterizado, não só pela herança cultural recebida de seus antepassados, mas de características sócio-culturais próprias de habitantes do mundo insular.
O imaginário do homem do continente está repleto de imagens sobre as ilhas e seus habitantes. Antes de iniciar este trabalho não era diferente com este pesquisador. Por já haver estudado a história da ilha, sabia-se um pouco, sobre sua história, sua população e sua cultura. Todavia, entre a imaginação e o pseudo conhecimento que se achava possuir sobre a ilha e os ilhéus, existia uma enorme diferença com relação a realidade.
Para um etnólogo, um antropólogo ou mesmo um fotógrafo, a função do “flâneur” , se fazia necessário desempenhar. Também air como Marcel Mauss, aponta em seu Manual de Etnografia ( 2006), quando se refere como observar e identificar os lugares onde se irá trabalhar e qualquer manual de fotografia aponta técnicas de procedimento para o fotógrafo trabalhar. Assim, estás foram as principais características das primeiras idas à ilha dos Marinheiros.

Após algumas viagens realizadas à ilha, era necessário, para se entender a cultura do ilhéu, se inserir na comunidade. Assim, tendo-se observado profundamente a sociedade ilhéu, estabeleceu-se uma forma de procedimntos básicos, de forma a se definir como se realizaria o trabalho.
As relações com os ilhéus, tiveram início em 1999, nas visitas a cada casa e a cada família da ilha, onde se apresentava-se, conversava-se e realizava-se fotografias sómente quando autorizado. A práxis, sugerida por John Collier Jr. (1974), onde as imagens eram devolvidas ampliadas em cada nova visita, foram feitas desde o início. Isto se fez nos últimos nove anos, de forma ininterrupta, fazendo com que a investigação participante, rende-se alguns milhares de imagens fotográficas, e um relacionamento que ultrapassava a simples “observação participante”. O fato de ter sido aceito como um deles, e participado de inúmeros eventos na comunidade, contribuiu muito para isto.
Percebe-se a importância do dizer de Malinowski, em suas sugestões na introdução do livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, quando diz que, “(…) recomenda-se ao etnógrafo que de vez em quando deixe de lado máquina fotográfica, lapis e caderno, e participe pessoalmente do que está acontecendo”. (MALINOWSKI. 1984.31).
A observação atenta, com a inserção na comunidade e as exaustivas visitas, aos finais de semana à ilha dos Marineiros, levaram à uma aceitação por parte da comunidade, como alguém que se interessava pore eles, por seus problemas e que passava horas a fio sentado a escutá-los, sem apressar-se nunca. Sómente quando autorizado, ainda que tacitamente, se começava a fotografar.
As fotografias que retornavam aos ilhéus, eram verdadeiros passaportes para as novas etapas do projeto. Não raro, se era atacado por alguém, na ilha, que ofendido dizia; “Quando é que vão me fotografar? Já fotografaram a todos os meus vizinhos e eles já receberam as fotos! Estou esperando que apareçam lá em casa!, para fazerem as fotos e conversarem…”.
Com a inserção conseguida na comunidade da Ilha dos Marinheiros, as visitas semanais a diversos integrantes da comunidade insular, passaram a ser rotina e as fotografias ansiosamente aguardadas por eles, verdadeiros “abridores de memória”, pois reavivavam fatos, acontecimentos e mediavam as entrevistas fazendo com que compartilhassem não só as informações sobre a história da comunidade, mas muito da intimidade de cada um.
Percebeu-se que a grande maioria dos ilhéus ou era de idade muito avançada ou eram de crianças em fase escolar. A simplicidade era então uma característica desta sociedade como diz Azevedo (2003) sobre o habitante da Ilha dos Marinheiros, “(…) ser ilhéu não é sinônimo de incapacidade. Pela pureza e humildade, pelo sofrimento, por nos fazer acreditar, novamente, num futuro melhor”(AZEVEDO.2003.16) , ser ilhéu “(…) sintetiza o encanto e a tradição fascinante que acolhe a todos, é um produto da cultura rural portuguesa, onde pessoas de hábitos singelos não foram absorvidas de todo pela modernidade”. (AZEVEDO. 2003. 21). O que é uma singulariedade cultural desta sociedade

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma questão de empatia

As relações com os ilhéus, tiveram início em 1999, nas visitas a cada casa e a cada família da ilha, onde se apresentava-se, conversava-se e realizava-se fotografias sómente quando autorizado. A práxis, sugerida por John Collier Jr. (1974), onde as imagens eram devolvidas ampliadas em cada nova visita, foram feitas desde o início. Isto se fez nos últimos nove anos, de forma ininterrupta, fazendo com que a investigação participante, rende-se alguns milhares de imagens fotográficas, e um relacionamento que ultrapassava a simples “observação participante”. O fato de ter sido aceito como um deles, e participado de inúmeros eventos na comunidade, contribuiu muito para isto.
Percebe-se a importância do dizer de Malinowski, em suas sugestões na introdução do livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, quando diz que, “(…) recomenda-se ao etnógrafo que de vez em quando deixe de lado máquina fotográfica, lapis e caderno, e participe pessoalmente do que está acontecendo”. (MALINOWSKI. 1984.31)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Falando sobre a pesquisa com fotos...

Organizar as imagens de forma a comporem um texto interativo, entre o escrito e o visual, é o que caracteriza, o que se chama de “Fotoetnotextografia”.
Não é mais estranho, o fato da fotografia só aparecer como ilustração de tabalhos científicos. Agora, ela tem se apresentado também como um forte aliado na produção de textos antropológicos e etnográficos.
Ao incorporar a metodologia de Gegory Bateson e Margaret Mead, adotada em seu livro “Balinese Character”, de 1942, se procura resgatar o trabalho pore eles realizado, da mesma forma, que a utilização do modelo de Bateson, estabelece uma organização entre o visual e o texto tradicional, de forma que venha a garantir um diálogo entre ambos.
Assim a apresentação da narrativa visual, contempla a utilização de pranchas, sequenciais ou temáticas, de forma que venham a compor uma eficiente transmissão de informações, através da utilização e imagens, de fotografias, que avaliadas cuidadosamente e organizadas com critério, como se faz com letras e palavras, formem uma mensagem, através de cada prancha.
Pode parecer estranho, mas ao sentar para escrever a dissertação, percedeu-se que tinha-se mais de 6.000 imagens digitais e cerca de 2.000 imagens analógicas, sobre a ilha, sobre o povo, sobre a vida e sobre as festas religiosas.
Traçar com as fotografias, um fio condutor, para que o leitor possa compreender e ver a religiosidade popular na ilha e entender através da visualização de outros elementos, o por que de ser da comunidade e cada uma das festas, é a pretensão que se objetiva neste trabalho.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Oferecer, além da possibilidade de ler, também poder ver, é uma das propostas do nosso trabalho com a fotoetnografia, com a fotoetnotextografia.
A observação atenta, com a inserção na comunidade e as exaustivas visitas, aos finais de semana à ilha dos Marineiros, levaram à uma aceitação, deste pesquisador, por parte da comunidade, como alguém que se interessava pore les, por seus problemas e que passava horas a fio sentado a escutá-los, sem apressar-se nunca.
As relações com os ilhéus, tiveram início em 1999, nas visitas a cada casa e a cada família da ilha, se apresentando, realizando fotografias, quando autorizado, e as devolvendo-as ampliadas em cada nova visita. Isto se fez nos últimos nove anos, de forma ininterrupta, fazendo com que a investigação participante, rende-se alguns milhares de imagens fotográficas, e se fosse aceito como um deles.
Elaborar um trabalho de antropologia visual, na área de ciências sociais, com a utilização de imagens fotográfica, exige um minucioso planejamento e uma construção, que deve ser muito bem elaborada. Quando se pensa, que a interação entre os registros verbais e os registros visuais que como diz Samain, ao falar sobre o livro de Bateson e Mead, “Balinese Character”, como “(…) concebidos como verdadeiras fontes de pesquisa e não apenas como meras e possíveis ilustrações”. (SAMAIN. in ALVES. 2004. 53), são de uma enorme importância para o trabalho. As fotografias adquiriram uma importância maior do que a de apenas fragmentos do observado, mas necessitavam de uma eloqüência maior, a fim de mostrarem, narrrarem e recordarem, a realidade espistemológica que procuravam conter de cada fenômeno gravado.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

O sagrado, o corpo.

O Espaço Sagrado, na Ilha dos Marinheiros

Mircea Eliáde aborda o conceito de um processo de fundação do espaço; de um espaço sagrado. Afinal o mundo criado pelos deuses e transformado pelo homem é originário do caos da relatividade das coisas estabelecidas com a presença do homem. O espaço sagrado de certa forma, é aquele que consegue reunir estas duas dimensões, humanas e divinas, estabelecendo uma passagem do real para o irreal, do profano para o sagrado e representando um intercâmbio entre as divindades e os homens através deste delicado momento.

Os ilhéus, na Ilha dos Marinheiros se reportam através de relatos orais e documentados por alguns historiadores à criação do espaço sagrado na ilha. O Cruzeiro. A construção deste local, no imaginário do ilhéu, tem uma ligação simbólica com sua herança cultural e sua estrutura religiosa.

sábado, 29 de março de 2008

Um olhar...

Esta sociedade insular, como diz Diegues “(...) Dadas as incertezas, os imponderáveis climáticos e de mercado” (DIEGUES.1998.59), estrutura-se baseada em um conhecimento empírico do mundo em que vivem, pois impedidos de influenciarem no tempos cíclico que rege as suas atividades, devem a ele se moldar.

Seus atores sociais, formulam um viver, que se por um lado se estrutura na tradição e no saber milenar da arte de viver em uma ilha, depender do mar e de suas conseqüências espaciais e geográficas, por outro estabelece um viver mágico-religioso.

Volver o olhar sobre o Ilhéu, é pesquisar a etnologia e etnografia de um povo maravilhoso.

Herdeiros naturais, das utopias sociais que envolvem as ilhas e seus habitantes, Os ilhéus, são os protagonistas da sua própria historicidade e transformaram estes ambientes considerados no passado, como impróprios para a vida humana, em seus espaços sociais, culturais e históricos, indo além do apelo imaginário e mágico, que as ilhas e seus habitantes despertam na psicologia do homem moderno.

Vegetação Nativa

terça-feira, 25 de março de 2008

Photoetnotextografia

Como me proponho nas pesquisas. Trabalhar o texto e a imagem com a mesma importância, nos leva as vezes a postar sómente textos visuais...
A possibilidade do olhar funcionar como um "scaner", de poder ir e vir sobre a imagem, o leva a descobrir aquilo que Barthes aponta como o "punctum", indo além do próprio "studium" que a imagem já contém.
É um exercício fascinante...

Procura-se confirmar o que se escreve, mostrando fotografias do que se diz com palavras e textos. Ignorava-se que nossas principais mediações com a realidade são visuais, e que “ao inventar a escrita, o homem afastou-se ainda mais do mundo concreto quando, efetivamente, pretendia aproximar-se dele” (FLUSSER, 1998. 30). De fato percebemos que todas as leituras de textos escritos, quando não integrantes das ciências exatas, permitem a imaginação interpor-se entre a escrita e a compreensão exata do fenômeno.

A Ilha desconhecida

quinta-feira, 20 de março de 2008