quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Falando sobre a Ilha e o Ilhéu

Esta comunidade intensamente ligada às águas, vive a dualidade terra-água em torno da qual se desenrola todos os aspectos sócio culturais e se cria uma identidade insular. O pescador artesanal que vive do mar, estabelece particularismos simbólicos, típicos de culturas marítimas, e totalmente diferentes dos chamados “continentais”.
A sobrevivência da captura da pesca, o coloca diante da lentidão do tempo cíclico da natureza, e esta relação aliada ao isolamento geográfico, o faz voltar o olhar para suas relações com os ventos, com as águas, com o tempo, com o oceano e adquire no imaginário inconsciente a necessidade da paz com sobrenatural, “(...) esse oceano era também a morada de monstros”(DIEGUES, 1998: 79) e vê na cruz o símbolo desta relação estabelecida com o divino, com o sagrado, de fato ela oportuniza uma ligação e simboliza a unificação dialética com o transcendental.
Assim, o significado da natureza como lugar dos deuses, e por serem os Deuses, como reza a crença e as lendas que “(...) são eles os verdadeiros proprietários das coisas e dos bens do mundo”(MAUSS, 2001: 61) direciona para o estabelecimento deste contrato, que permitiria a possibilidade de navegar no mar , de realizar a “travessia”. Este símbolo deve ser interpretado em toda a sua dimensão como um rito de passagem, pois de fato percebe-se pela história do próprio homem, seja pela mitologia grega ou através da “expedição dos argonautas”, ou mesmo a “Odisséia” e a lenda da “barca de Caronte”, que o homem trava uma relação mitológica profunda com as águas e com o mar.
A forte relação com o “mundo” das águas, aumenta o sentimento de pertencimento a um modo impar de vida. “(...) pescadores artesanais possuem o sentimento de pertencimento, implícito à realidade geográfica documentada no ímpar modo de vida”( LIMA, 2003128). São estas noções simbólicas que coexistem entre o tempo cíclico da vida terrena e o imaginário simbólico que remete a relação com o sobrenatural, explicitado na festa do santo padroeiro.
A afirmação de Gislaine Garcia de Faria de que “(...) o lugar não expressa vínculo de propriedade, mas sim uma rede de relações” (FARIA, 1998:79) remete ao sacro-religioso desta comunidade praieira, onde a dialética entre os mitos próprios da gente da lide com o mar, se reúnem na historicidade do lugar com a fé cristã herdada dos primeiros colonizadores portugueses que habitaram o lugar.
A comunidade da Marambaia possui características próprias. Embora, siga os mesmos ritos das outras duas comunidades existentes na ilha. A relação com o sagrado realizada tem uma forte conotação com as relações de trabalho e com a relação dos pescadores, e a sua mística com o mar e a natureza.