sexta-feira, 11 de julho de 2008

As origens Portugal x Brasil

A Origem Portuguesa

A Ilha dos Marinheiros: duas maneiras de contar.
Breve história e origem do nome


A história da Ilha dos Marinheiros, segundo Azevedo (2003: 36), diz que inicialmente, antes da vinda dos primeiros colonizadores, a Ilha era ocupada por indígenas, identificados por Ruivo (1994) como integrantes da tribo dos Minuanos, povo nômade que nela pescavam, caçavam e cultivavam alimentos para sua sobrevivência, quando ali se instalavam no verão.

Em 1737, o português Silva Paes desembarcou em Rio Grande para formar um núcleo de fortificação e de auxílio à Colônia de Sacramento. As constantes batalhas com os espanhóis obrigaram a Coroa Portuguesa a construir um fortim e povoar as terras próximas a barra do canal, lugar considerado estratégico para a consolidação dos domínios de Portugal. Segundo Maciel em seu trabalho “A Educação Ambiental como instrumento na busca de soluções para os problemas socioambientais na Ilha dos Marinheiros” (1998). “As fortificações, casas, quartéis e demais obras eram feitas de madeira, pau-a-pique e barro” (QUEIROZ, 1987:67).

Estes soldados deveriam construir uma vila e uma fortificação, sobre as dunas de areia, que caracterizavam a região e que geravam imensas dificuldades. Pela localização e a estrutura costeira, os marinheiros foram encarregados então de conseguir água para o consumo e madeira para essas fortificações, e foram buscá-las na Ilha próxima, onde eram abundantes e de boa qualidade. Segundo Décio Neves “a península do Rio Grande era circundada por inúmeros capões de mato, compostos, sobretudo, por muito boas madeiras, inclusive a grande Ilha dos Marinheiros” (NEVES, 1981:65).

O povoamento da ilha se processou baseado no interesse das vantagens que a Ilha dos Marinheiros oferecia para a atividade agrícola e pesqueira, e que eram até então exploradas, somente pelos nativos indígenas. Transformada inicialmente em três sesmarias doadas a primeira ao Capitão Antonio Gonçalves dos Anjos, a segunda a Antonio de Araújo Vilella e a terceira a Antonio Gonçalves Pereira de Faria (NEVES, 1981:72). Foi reconhecida inicialmente como “A Ilha dos Três Antônios” (FREIRE, 2003:19), e que a historiadora Azevedo (2003) também retifica no livro que conta a história da Ilha dos Marinheiros, ao chamar o livro de “A Ilha dos Três Antônios” (2003).

Segundo os registros de João Borges Fortes, uma nova doação de terras da ilha foi feita em 1744, “(...) a Marçal da Silva Veiga, o que deve indicar que efetivamente não ocorreu a ocupação dessas terras por parte dos sesmeiros anteriores” (RUIVO, 1994:151).

Sobre a origem do nome da ilha, Ruivo, ao citar Freitas (1980), acrescenta um dado importante referente a importância da Ilha na época da fundação da povoação no continente, e a origem do nome que davam a ilha, referindo-se ao ano de 1780 e ao relatório feito a Coroa por Sebastião Bettamio, o qual escrevia a respeito da Vila de São Pedro, atual cidade do Rio Grande, dizendo:

Defronte da vila em distância por mar de uma légua, está uma ilha chamada dos Marinheiros, na qual tem sesmarias e datas de terras de alguns particulares, e como dali vem as lenhas para a vila pelas não haver – mais próximas, forma isentas da sesmaria e datas, assim as lenhas como os capins que servem para coberta de casas, a fim de que tanto a Fazenda Real como os moradores da vila se poder em livremente utilizar das ditas lenhas e capins. (FREITAS, 1980:159).

Portanto, as constantes idas à ilha, por parte dos marinheiros, levaram que a população residente em Rio Grande de São Pedro a batizassem de Ilha dos Marinheiros. “O nome da Ilha dos Marinheiros originou-se pelas constantes idas dos marinheiros da armada de Silva Paes ao local para buscar água potável e lenha” (PIMENTEL, 1944: xx).

Saint-Hilaire diz em 1820 em sua passagem por Rio Grande “(...) grande parte da Ilha dos Marinheiros era coberta de mato e que lá se buscava a lenha necessária, mas era reservado ao consumo do hospital, ao corpo da guarda e aos pobres, a quem se permitia ir ali corta-la” (SAINT-HILAIRE, 1987: 66).

É importante ressaltar, que a ilha além de fornecer madeira para a construção do fortim no continente, era também o centro fornecedor de água potável para a vila de Rio Grande de São Pedro, sendo no entanto considerada como um local inóspito para se viver, apesar da fertilidade do solo. Os registro de Saint-Hilaire dizem, quando de sua visita ao sul em 1820 “(...) Ali se encontra uma excelente água cuja qualidade poude julgar, pois era a que se bebia à meza do Major Matheus” (SAINT-HILAIRE, 1987:66).

Ao se consultar os arquivos históricos do Rio Grande do Sul (1977), se percebe que a ilha também teve outro papel, pois segundo Ruivo, o arquivo histórico do Rio Grande do Sul, em seus anais (1997: 159) diz que “A ilha foi utilizada como presídio [...], o negro do sargento mor causa da última desordem, seja remetido para a Ilha dos Marinheiros por tempo de três meses” (RUIVO, 1994: 151), quando se refere a Revolta dos Dragões, ocorrida em 1742.

Os anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, apresentam à página 177 e 178 o seguinte relato sobre a Ilha, compilados por Ruivo;

(...) soldado dragão da Companhia do Tenente-coronel, que ele suplicante se acha preso neste Corpo da Guarda à ordem de V.Sa., por se retirar do pesado serviço que estava ocupando na ilha do Marinheiro para esta povoação, por entender se ajustava com o amplo patrocínio de V. As., pois naquela ilha vivia bastante amofinado do trabalho dela, alem de ser mui despido e de todo carecido de quanto se faz preciso a um soldado para poder continuar em sua obrigação e não menos em tão agro serviço (ARQUIVO HISTÓRICO DO RS, 1977:177/178; RUIVO, 1994:151).

Esta imagem de lugar inóspito para se viver, e distante dos lugares civilizados e habitados, de difícil acesso e abandonado é o retrato do que era a Ilha dos Marinheiros no passado, o que, mesmo assim, não impediu que aos poucos, ali se fosse fixando uma população de colonizadores, devido a “(...) suas fertilíssimas terras, propícias à agricultura” (MACIEL, 1998:41), e que foram atraindo uma população de “(...) imigrantes portugueses e africanos que, familiarizados com as atividades agrícolas, foram lá se estabelecendo” (MACIEL, 1998:41).

De fato Dreys passou por ali em 1817 e relata “(...) algumas chácaras e produzem com abundância todas as hortaliças e legumes que lhes pedem” (DREYS, 1961:75).

A ilha foi ocupada por portugueses oriundos de Águeda, Aveiro e da Bairrada, (AZEVEDO, 2003:11) e que ali desenvolveram uma variada gama de plantações de hortaliças, legumes, frutas e videiras, constituindo uma ocupação estável de lavradores e o povoamento da ilha. “Dentro deste lagamar acha-se uma grande ilha, chamada dos Marinheiros, muito fértil. Nela se encontram todos os auxílios necessários para se poder fazer naquele continente uma bem regulada povoação” (GUILHERMINO, 1981:1970).

Este processo de colonização e ocupação geográfica fez com que a ilha dos Marinheiros viesse a se tornar no dizer de Pimentel (1944) “(...) o mais importante centro agrícola do município, com intensa cultura de legumes e frutas, fabrico de vinhos, de que se abastece a cidade e faz exportação em larga escala”. “(...) é a parte mais fértil do município, sendo conhecida como o pomar do Rio Grande” (PIMENTEL, 1944:54), o que evidencia o desenvolvimento da ilha para a época e apontava para uma existência de uma população de moradores e trabalhadores expressivas na agricultura, quase todos de origem portuguesa.