terça-feira, 10 de agosto de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

terça-feira, 29 de junho de 2010

A Ilha dos Marinheiros faz parte de um símbolo polissêmico, que permeia a cultura do seu habitante. Pois, ali se reúne uma população de trabalhadores sazonais, visto que são em um momento pescadores - lavradores e em outro momento lavradores – pescadores. Utiliza-se desta expressão para definir o ilhéu porque às vezes, estes pescadores, também exploram a terra, quando impedidos de pescar. A exploração da terra está ligada não só as questões da “piracema”14, como também à afirmação de um pluralismo econômico característico do litoral do brasileiro como diz Maldonado (1986).
Muitos dos outros habitantes da Ilha dos Marinheiros que são agricultores, na época da chamada ‘safra do peixe’15, dedicam-se também a pesca, caracterizando esta definição de serem lavradores – pescadores.
Através deste duplo que constitui as sociedades que habitam as ilhas é que o habitantes insulares elaboram um simbolismo e um imaginário, próprio de uma sociedade ligada ao mundo de ilhéus submetidos ao ciclo da natureza. Um mundo que é real, mas também mítico pois é ao qual estão submetidos, devido às limitações territoriais do seu ambiente natural, a ilha e as águas que a cercam.
De fato, Bachelard diz que “(...) a imaginação não é como sugere a etimologia, a faculdade de formar imagens da realidade; é a faculdade de formar imagens que ultrapassam a realidade, que cantam a realidade” (BACHELARD, 2000:17/18).
Este ambiente insular, por características próprias e inerentes ao seu aspecto geográfico territorial, possui uma população que tem este modo de vida muito particular, ligado a imagens e símbolos associados aos mares.
É um modo distante e diferente do continente, pois vive sob a ordem das águas e das marés e é modelado pelo ciclo dos ventos, pelo tempo cíclico e pela natureza. São estes elementos naturais que estabelecem o ritmo de vida desta sociedade e caracterizam a sua identidade, ditando o seu cotidiano real e o mítico.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

Antropologia Visual

Iniciando estudos de aprofundamento. No Domingo, dia 29 teremos a festa de Nossa Senhora da Saúde. Lá estaremos dando ínicio ao novo formato do trabalho. Agora com entrevistas no caderno de campo tradicional, gravação da aúdio e claro, muitas fotografias.

Indo para a Ilha

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A Fé

A Religiosidade do Ilhéu, a Cruz, o Cruzeiro e o Rito

O sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser no Mundo, duas situações existênciais assumidas pelo homem ao longo da sua história. (ELIADE, 2001:20)


A religiosidade na Ilha dos Marinheiros possui uma característica única, ou seja tem sua trajetória fundamentada na religião católica apostólica romana e na herança cultural religiosa portuguesa. Na ilha não existia até pouco tempo, outra prática religiosa, que não fosse a católica.
A religião praticada na ilha é a professada pela Igreja Católica Apostólica Romana. O cristianismo, que se baseia no antigo testamento, na Bíblia e na doutrina de Jesus Cristo, que tem na cruz a sua principal identificação, caracterizando os cristãos.
A cruz faz parte da trajetória bíblica e tem uma estreita relação com a figura de Cristo. A veneração à cruz reafirma a crença em Jesus e resume a união entre o céu e a terra. Portanto, percebe-se que a cruz, vista como símbolo, exerce uma importante função ao realizar a ligação do mundo humano com o sagrado.
É a cruz que estabelece a ligação do homem com a divindade, com Deus. É diante da cruz, símbolo que cumpre uma função poderosa de ligação com o sagrado, que o homem entra em contato com o divino, através das preces, dos pedidos, da veneração, da adoração, e onde os agradecimentos são exteriorizados como expressão máxima de uma cultura religiosa. Geertz (1989) vê este símbolo como parte de uma experiência unificadora;


(...) se revela de forma contínua e dialética, pois transforma simples objetos (como uma madeira) em uma potente realidade de transcendência, oportunizando uma ligação com o sagrado, fazendo circular por um código o todo num simples fragmento. (internet-ver religiosidade e cidade – o Santuário de Santa Cruz dos Milagres –Pi).

O fenômeno religioso tem a atenção despertada, em parte, pela tradição ao culto, mas também pela herança histórica católica portuguesa que as populações herdaram e mantêm viva, como uma forma de ligação entre o céu e a terra, entre o sagrado e o profano, entre a pátria mãe e a terra onde vivem, constituindo importante patrimônio histórico e cultural. Aqui a memória desempenha um importante papel de sedimentação na formação de uma identidade cultural própria da ilha dos Marinheiros e intimamente ligada à vida com o mar. Brandão aponta ‘(...) e logo o sentimento duma herança étnica que se relaciona intimamente com a grandeza do mar” (BRANDÃO, 1924 apud DIEGUES, 1998: 212).
Lukács (2003) postula, da possibilidade de determinada “classe”, e aqui se vê o ilhéu com esta visão, de que ela, a classe, pode estabelecer uma visão de mundo particular e, ao formar a sua memória, constituir-se em um grupo com uma percepção especial sobre a sua história, a partir da memória coletiva, que é constituída de diversas memórias individuais, o que Halbwachs define como que “(...) nossas lembranças permanecem coletivas e nos são lembradas por outros (HALBWACHS, 2006:30), constituindo a memória de um grupo.
Então, esta ligação que a cruz oportuniza com o sagrado, é para o homem religioso, a oportunidade de viver a dicotomia que a vida proporciona, de dois tempos distintos, um tempo primordial, sagrado e que é “(...) santificado pelos deuses e suscetível de tornar-se presente pela festa” (ELIADE, 2001:65) no fato religioso, e de outro tempo: o temporal, quando o homem trabalhava e vive o cotidiano inserido no mundo.
“O mundo insular” (DIEGUES, 1998:13) constitui-se de redutos socioculturais com espaços geográficos – culturais, específicos que possuem representações simbólicas únicas e práticas sociais singulares que orientam as ações daqueles habitantes e normatizam seus comportamentos na comunidade.
Sendo o ambiente insular rodeado pelo mar, as imagens arquetípicas destas populações são produzidas pelo “(...) inconsciente coletivo (a ilha refúgio, a ilha paraíso)” (DIEGUES, 1998:15), característico das populações continentais, e que ainda segundo Diegues diferem da realidade ilhéu que, “(...) representam simbolicamente o território em que vivem, usando segundo as épocas históricas, imagens e símbolos cujos significados podem ser diferentes dos usados pelas sociedades não insulares ou continentais” (DIEGUES, 1998:18).
O homem insular não vive isolado do cosmos, mas completamente envolvido nele, pela natureza, e sua “(...) identidade emocional inconsciente” (JUNG, 86:1973) é extremamente ligada aos fenômenos naturais, uma vez que sua vida é regida pelo tempo cíclico das estações climáticas e do ritmo da natureza. Os particularismos da gente do mar e dos habitantes insulares envolve, em geral, desde os rituais que antecedem a saída para a pesca, à própria pesca e vão do lançamento dos barcos ao mar até o seu retorno. Sobressai ainda a escolha dos companheiros de trabalho e que vão na parelha, assim como o modo de falar e a forma como enfrentam a dualidade da relação água-terra.
O linguajar próprio com expressões praieras como diz Marques (1973) caracteriza também o ilhéu que não é ‘mitrado’ e nem não gosta de ‘bater a costera’ mas que gosta de falar das ‘coisa osca’ e preza o fato de ser dono de si mesmo e ter esta impressão de liberdade, embora a segregação imposta pela natureza de se ver rodeado de água e isolado, e por isso conserva quase que intacta as tradições firmadas de “(...) sua cultura e o seu primitivismo social”(MARQUES, 1973: 15) mesmo diante da interferência de outras culturas e grupos sociais.
Mas estes insulares da ilha dos Marinheiros são ligados a um outro tipo de atividade além da pesca, que é a atividade agrícola. Pois estão submetidos à sazonalidade da safra pesqueira e às leis existentes pelo período da desova dos peixes, assim, estes insulares se dedicam também à agricultura em regime familiar.
A reprodução social e cultural que advém desta dualidade de vida entre a terra/mar somada ao componente da cultura portuguesa, dão a este insular um sentido muito forte do sagrado e das suas relações com o sobrenatural. As intempéries do mar, a incerteza da safra agrícola e a sujeição à natureza e aos seus fenômenos não controláveis, dotaram este habitante insular de um forte caráter social e religioso impregnado de misticismo e superstição.
Aliado a está característica, existe o culto às imagens (iconolatria), característico das comunidades portuguesas e católicas, em que “(...) buscam enfatizar a centralidade do sagrado”(CAMURÇA & GIOVANNINI JR., 2003: 229) em suas vidas e reúnem elementos que norteiam seus atos e demonstram, com os símbolos, os significados e os conceitos de sagrado e profano reunidos pela comunidade.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Audiovisual e a Fotoetnotextografia. O caso do Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros

Trabalho apresentado no Regiocom2008 -

Resumo:

Este artigo apresenta dados sobre a realização do Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros e a sua apresentação em forma de audiovisual para a comunidade de ilheús. O que é um audiovisual e como produzi-lo. A Fotoetnotextografia e seus conceitos e métodos. Este artigo apresenta essa trajetória sobre a produção de audiovisual, a fotoetnotextografia em um estudo de caso sobre o Projeto Fotográfico Ilha dos Marinheiros. Esta abordagem apresentada visa esclarecer as etapas de produção de audiovisual a partir de imagens fotográficas, o uso da fotoetnografia e a conceituação da fotoetnotextografia.

Palavras Chaves:

Audiovisual, fotografia, fotoetnografia, fotoetnotextografia, comunicação visual.


A qualidade e o sucesso de um audiovisual depende sempre, e em grande parte, do planejamento que antecede a produção. Não foi diferente na realização do audiovisual sobre o “Projeto Fotográfico da Ilha dos Marinheiros”.
Assim, apresenta-se aqui algumas premissas sobre a realização de um audiovisual, para depois se verificar o estudo de caso em uma abordagem sobre o seu uso no projeto em questão.
Todo o audiovisual depende sempre da realização de um planejamento antecipado e claro, afim de estabelecer e focar o objetivo do trabalho. O objetivo geral e o objetivo específico precisam nesta etapa serem estabelecidos de forma concisa, clara e objetiva para o sucesso do trabalho e para tanto necessitam de um estudo prévio e antecipado do público alvo.
Um audiovisual deve sempre estar visando o que se espera obter da sua audiência, Mesmo após a visualização do trabalho é necessário se alcançar resultados que evidenciem o sucesso do trabalho.
Então, se entende que no planejamento de um audiovisual deve ser desencadeado uma série de passos preliminares e que antecedam a sua realização, com o único objetivo de construir um trabalho sólido, objetivo e eficaz em seus propósitos comunicacionais.
Um análise de audiência, buscando responder a questões que esclareçam o nível educacional dos espectadores, a idade, o nível de renda, os pontos de vistas religiosos, seus afazeres diários e o local de suas residências, serão fundamentais para se poder definir o trabalho, pois o que sabem sobre o assunto e o que deve ser produzido em função do público alvo é de vital importância para o sucesso do empreendimento.
A produção e o roteiro deverão estabelecer, além do custo, questões fundamentais para um bom trabalho, no que dizem respeito ao tamanho do audiovisual, o tempo de duração, o custo orçamentário para a sua realização e divulgação, os elementos humanos que irão trabalhar e ou representar(se for o caso), cachês, quem irá dirigir, os assessores, o pessoal da técnica, as autorizações e contratos para o uso de imagem, além é claro da definição de equipamentos a serem utilizados, suportes fotográficos e a definição final do tamanho da projeção.
Todos estes elementos são fundamentais e devem ser constantemente avaliados, durante o andamento da produção, de forma que os problemas que forem surgindo durante a realização do audiovisual possam ser resolvidos visando garantir o sucesso do empreendimento.
Com o advento da era digital, o quadro de planejamento tão utilizado até então, passou a vir disponível em softwares, que garantem, ainda que minimamente, uma visão de parte da seqüência visual das imagens a serem utilizadas. Salienta-se, no entanto, que produções mais ambiciosas devam conter um roteiro escrito que deve incluir a descrição de cada imagem individual e a narração a ser utilizada em cada uma, ainda que digitada em forma de legenda.
Após toda a etapa de planejamento e produção a aprovação do roteiro começa-se a etapa mais clara do processo. O chamado “shot breakdown”, isto é, colocar os slides ou imagens em ordem de apresentação, o que determina a forma mais conveniente à execução do trabalho. Esta edição de imagens é necessária ser feita e ao seu final ser salva com identificações cronológicas de forma que sempre se possa voltar para refazer ou alterar algum ponto que se julgue necessário.
Outro fator importante é definir o formato das imagens, ou seja , a forma como as imagens serão registradas para o áudio visual, visando o uso da verticalidade da cena ou a sua horizontalidade, conforme a informação que se deseja passar. Está definição é muito importante, para dar uma maior qualidade ao registro visual. Nesta etapa conta muito o senso estético da cena, mas é de fundamental importância salientar, que ela deve ter sido pensada na etapa de planejamento do audiovisual.
O processo de captura das imagens ao ser iniciado, deverá então, seguir as orientações do roteiro. As tomadas fotográficas deverão então ir privilegiando sobre maneira as combinações adequadas de luz existente, com as sensibilidades utilizadas, de forma que as imagens registradas, mostrem uma perfeição de cores, contraste, luminosidade e saturação, além é claro da informação visual.
Os procedimentos fotográficos técnicos serão sempre baseados no uso da iluminação adequada, de forma à gravarem imagens claras em seu conteúdo e com um contraste perfeito, qualificando-as para a utilização no audiovisual. Imagens escuras, sem contraste ou mal iluminadas serão descartadas, pois terão baixa visibilidade e serão de difícil leitura.
A apresentação dos elementos imagéticos deverá dar ao observador uma clara leitura tanto da imagem, como do texto a ser utilizado.
Deve-se ter presente ainda a questão dos planos fotográficos utilizados; O close-up, termo inglês que denomina o primeiro plano, deve ser utilizado para destacar detalhes do assunto ou mesmo o evidenciar em suas particularidades e qualidades.
O plano médio geral, também chamado de plano americano, que visa mostrar de maneira mais próxima a cena do que o planto geral. Este plano, quando utilizado com personagens, tem a tendência de ter o enquadramento ao nível dos joelhos da pessoa para cima.
O plano geral, anteriormente citado, tenta situar o observador no ambiente onde é realizado a tomada de cenas.
Existem ainda os planos médio e plano detalhe, onde a pessoa é mostrada da cintura para cima e o plano detalhe onde o objeto ou assunto registrado ocupa toda a tela. Percebe-se assim que a utilização dos planos vai ressaltando conforme o roteiro, as cenas fotográficas objetivas e as cenas fotográficas subjetivas.
Outro fator importantíssimo a ser observado é o enquadramento das cenas a serem registradas, e deve-se ter cuidado com as folgas em demasia com relação ao assunto e a cena e dos enquadramento apertador, que engessam a cena.
A composição a ser utilizada que determina a distribuição do assunto na cena deve ter um cuidado especial, principalmente com relação ao uso de composições dispersivas, onde objetos e assuntos secundários roubam a cena central a ser registrada, como a utilização de composições pobres, onde apoios ou reforços visuais de objetos poderiam valorizar o assunto central.
Finalmente, realizado a captura das imagens, se passa para a realização de uma seleção visual de todo o material obtido, onde o responsável pelo audiovisual deverá envolver-se na avaliação e a seleção de imagens de acordo com o objetivo do trabalho e com a legibilidade textual a ser inserida, de forma que os caracteres a serem utilizados valorizem o tanto a imagem como o texto usados.
Nesta etapa o diretor deve observar o uso de uma dimensão mínima de tamanho dos caracteres para a compreensão do audiovisual e também a uma altura máxima dos mesmos caracteres, de forma que não ultrapasse o senso estético para a apresentação.
A elaboração de um Layout bem estudado garantirá a legibilidade e a possibilidade de uma apresentação progressiva e bem sucedida do audiovisual. Finalmente a inclusão da trilha sonora e a marcação para a mudança sucessiva das imagens garantirão o sucesso do audiovisual.
Feito estás premissas sobre a áudio visualidade, ressalta-se que foi assim, dentro desta lógica que se realizou o trabalho sobre o projeto fotográfico da Ilha dos Marinheiros.
O estudo prévio sobre o Ilhéu morador da ilha foi fundamental para que a abordagem sobre os temas objeto de estudo tivessem sucesso e conseguissem reunir em um amplo leque de informações o que se desejava mostrar sobre a realidade geográfica, cultural, social e religiosa do nativo daquele lugar.
O cotidiano de suas relações interpessoais e com a natureza que os condiciona, limita e rege o seu viver, tornaram possível descobrir e registrar o seu relacionamento com o sobrenatural, e portanto descortinar os segredos daquela sociedade insular e desvendar os motivos do seu agir
O ato de ver não é uma coisa natural, ele necessita ser aprendido. Foi Nietzsche quem afirmou que a primeira tarefa da educação seria a de ensinar a ver.
A escolha de usar da fotografia no trabalho de pesquisa na Ilha dos Marinheiros, foi baseada no caso de que ela permite uma forte constatação visual da realidade, de forma a fazer com que o homem, o observador, possa se reconhecer dentro do processo histórico pois, “(…) a formação do conhecimento ocidental se faz pelos sentidos, principalmente pela visão” (RECUERO, 2006:200 in Ecosrevista). Afinal, sabe-se que “a máquina fotográfica não se apresenta como um remédio para nossas limitações visuais, mas como um auxiliar para nossa percepção”(COLLIER JR., 1973:01).
Após a decisão de se usar as fotografias como forma investigativa no trabalho, cabia a escolha do “como” fazer, pois ver fotografias apenas em anexos de trabalho é frustrante. Olhá-las apenas como ilustrações ressaltava a existência de um abismo entre o visível e o dizível, entre o potencial de comunicação do processo fotoetnográfico como fator de comunicação e a opção pelo uso do texto com uma ilustração sobre o que se escrevia.
A percepção de que a compreensão da realidade era maior quando a mesma se tornava disponível, através de fotografias, diante do olhar era no entanto uma constatação do valor de se utilizar imagens fotográficas como narradoras da realidade etnográfica.
Assim, a escolha de usar a fotografia como o fio condutor, não foi um acaso e nem uma escolha pioneira ou experimental, mas fundamentada na bibliografia existente, que conciliava a formação de comunicador social, fotógrafo com uma experiência de mais de 40 anos. A curiosidade investigativa sobre o uso da fotografia nas ciências sociais e em especial na antropologia visual e na fotoetnografia, por parte deste pesquisador, poderia ser resumida no falar do filósofo da fotografia Henri Van Lier quando diz;

(…) Après tous lês caractères que nous venons de parcourir, la photographie se situe peu-être lê mieux grace à lòpposition quòn fait souvent aujourd`hui entre lê téel et la realité. (VAN LIER. 1983:42).


A leitura do livro de John Collier Jr. “Antropologia Visual – A Fotografia Como Método de Pesquisa” (1974), do livro “Balinese Character – A photographic analysis” (1942), de Gregory Bateson e Margaret Mead, do livro “China and the people” (1851) de John Thonsom, o livro “How the Other Half Lives, New York de Jacob Riss (1888), e dos clássicos livros de Lewis Hine (1932) “Men at Work. Photographic Studies of Modern Men and Machines”, “Women at Work. 153 photographs”e “Kids at Work, e o filme “Nanook – of the North”(1922) de Robert Fkaherty, foram de certa forma um balisador, para nortear a realização do trabalho e fundamentar a busca dos objetivos pretendidos no uso da imagem visual, marca inapagável desta época, como forma de narração da investigação pretendida.
O Trabalho de Luiz Eduardo Robinson Achutti “ Fotoetnografia: um estudo de antropologia visual sobre cotidiano, lixo e trabalho”, (1997) realizado com mulheres em uma vila da cidade de Porto Alegre, e fruto da sua dissertação de mestrado, na Urgs, foi esclarecedor e o marco para se aprofundar na pesquisa sobre a Antropologia Visual, sobre a Fotografia Documental e fundamentar o uso da “Fotoetnografia” e também para preparar outra alternativa para se trabalhar a imagem fotográfica em trabalhos científicos.
Elaborar um trabalho de comunicação visual, na área de ciências sociais e de cunho antropológico, com a utilização de imagens fotográfica, exige um minucioso planejamento e uma construção, que deve ser muito bem elaborada.
Quando se pensa, que a interação entre os registros verbais e os registros visuais que como diz Samain, ao falar sobre o livro de Bateson e Mead, “Balinese Character”, devem ser “(…) concebidos como verdadeiras fontes de pesquisa e não apenas como meras e possíveis ilustrações” (SAMAIN. in ALVES, 2004: 53), definem e caracterizam a importância da fotografia, no caso, para a realização do projeto fotográfico sobre a Ilha dos Marinheiros.
Percebe-se que as fotografias passam então a adquirir uma importância maior do que a de meros fragmentos do observado. Elas adquirem o poder de valerem “mais do que mil palavras”. Elas são imagens refletidas de uma realidade e assim gravadas para o todo sempre.
No entanto, as imagens fotográficas necessitam de uma eloqüência maior, a fim de mostrarem, narrrarem e recordarem, a realidade espistemológica que procuram retratar de cada fenômeno gravado. A sua subjetividade “natural”, inerente da fotografia, necessita de um aliado, de forma que conjuntamente possa contribuir para uma melhor narração do fenômeno.
O texto foi a escolha mais racional. Mas, a forma da sua utilização, era a dúvida e a questão a ser trabalhada, pois, não se pretendia utilizar a fotografia, como mera ilustração de palavras, como até então é utilizada pela maioria dos pesquisadores.
O método Fotoetnográfico, desenvolvido por Achutti não preenchia, no caso, os anseios e a forma que se pretendia dar ao trabalho. O Fato de usar o texto em determinados momentos e a imagem simples e pura em outros, nos colocava dúvidas quanto a eficiência na narração de um dos objetivos específicos que nos propúnhamos, o de relatar as festas religiosas, que são repletas de gestos e linguagens do corpo, e que necessitavam em alguns momentos o uso conjugado do texto tradicional para uma maior compreensão do trabalho visual registrado.
A imagem não é um equivalente ao texto. Ela não possui a capacidade enunciativa da linguagem escrita tradicional, mas traz consigo algumas particularidades que vão além do olhar e do ver, mas que fazem pensar, por ser “(…) uma representação das representações”(SAMAIN, in ALVES, 2004: 71), pois vão adquirindo então uma imperturbável imutação desta realidade registrada, que ali aprisionada mostra o que diz Sontag “(…) o qüão irreal e remota é a realidade.” (SONTAG, 1981: 157).
Outro elemento importante no desenvolvimento desta constatação, vai de encontro ao modo como o leitor deve procurar agir a respeito e que diz Achutti como deve ser feito ao “(…) dar a mesma importância à linguagem escrita e a linguagem visual, fotográfica, no caso”(ACHUTTI, 2004: 73), na leitura destes trabalhos.
Assim, como se ordena as letras, as palavras e as frases, para se enunciar uma informação, as fotografias necessitam também desta organização, de forma a fazerem o observador pensar, através da simbolização da realidade que, elas, trazem consigo, como Aumont descreve que “(…) a imagem tem dessa maneira a capacidade de transmitir e talvez, de fabricar reflexão no que diz respeito ao mundo.”(AUMONT in SAMAIN in ALVES, 2004: 71).
Se o que a fotografia apresenta é provas da realidade como diz Sontag, e que quando temos dúvidas sobre a sua veracidade, ela “(…) parece-nos comprovada quando dela vemos uma fotografia”(SONTAG, 1981:05), então, estas imagens são capazes de fazer conhecer, e completar o que o texto tradicional não consegue descrever a respeito de determinados fenômenos e experiências.
A fotografia que antes ilustrava galerias, informava em jornais e anunciava o consumível, agora, ela, busca no seio da ciência o lugar que ela lhe julga reservado. Não ser arte mas, conter a arte. Não ser a realidade, mas, conter a realidade. Não ser a ciência, mas mostrar a ciência, pois é dotada, quando bem utilizada, de uma narrativa eloqüente.
Portanto, a responsabilidade da realização de um trabalho cientifico utilizando imagens fotográficas deve se render à honestidade e ao bom senso o qual deve prevalecer na captura destas cenas, assim como deve ser a realização das anotações feitas no caderno de campo tradicional de uma pesquisa antropológica.
Assim ao se elaborar uma pesquisa etnográfica o acervo repleto de informações que deve ser elaborado, e que vai além das simples anotações, sejam visuais (fotográficas ou cinematográficas) ou as realizadas de maneira tradicional no caderno no campo, devem constituir-se de um rigor cientifico idêntico nas suas formas de obtenção.
Barthes(1981) já dizia “no fundo a fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa”, assim o objetivo deste trabalho também é o de ao utilizar a fotografia desta forma, fazer ver e pensar contribuindo para o desenvolvimento da antropologia visual.
Se Achutti chama de Fotoetnografia “(…) o resultado de um exercício utilizando-me da fotografia, no sentido da constituição de uma narrativa etnográfica”(ACHUTTI, 1997: 15), este pesquisador denomina de “Fotoetnotextografia” o método que contempla o uso da fotografia como discurso em narração de trabalhos científicos e utilizada com a mesma importância do texto tradicional, no corpo do trabalho, podendo estar intercalada entre o texto e legendada ou só como narrativa visual, sem a presença de palavras na descrição de fenômenos sociais. A esta forma de utilização denominou-se de Fotoetnotextografia.
Ao se confrontar a Fotoetnografia e a Fotoetnotextografia para se apurar as suas diferenças e semelhanças, pode-se afirmar que elas possuem mais semelhanças que diferenças. Todavia, o que as difere, seria a forma como o texto é utilizado em conjunto com a imagem fotográfica. Ao passo que na Fotoetnografia vem os textos visuais e depois os textos tradicionais, ou vice –versa, na Fotoetnotextografia os mesmos textos visuais (fotografias) e os textos tradicionais interagem dentro do mesmo.
Ao se sentar para concluir o trabalho sobre a Ilha dos Marinheiros, percebeu-se a qualidade técnica do material fotográfico obtido e a enorme quantidade de imagens fotográficas, resultado de quase dez anos de constante captura fotográfica realizada na Ilha.
Apesar da enorme quantidade de fotografias realizadas se percebeu que se tinha mais de 10.000 imagens digitais e cerca de 3.500 imagens analógicas, sobre a ilha, sobre o povo e suas atividades culturais, sobre aspectos sociais e as festas religiosas.
A partir de então, realizou-se uma seleção das imagens capturadas por este pesquisador e as realizadas por seus colaboradores, de forma a se realizar uma avaliação e seleção do material visual disponível.
Como se havia estudado sobre a produção de audiovisuais e se observado de forma participativa a todos os fenômenos registrados, sabia-se como elaborar um texto visual coerente, privilegiando através da escolha da melhor imagem fotográfica para realizar uma melhor narração da descrição visual do fenômeno observado.
Tinha-se presente o fato de que, assim como um parágrafo não desvenda um texto, mas é um conjunto de parágrafos que descreve o observado e dizível com palavras. Pois, nada é feito de forma desordenada, ao se narrar, pois foram as palavras agrupadas de maneira a dar um sentido lógico, e formar um código decifrável, para poderem dar uma compreensão ao que se narra, com as fotografias não deveria ser diferente.
Com as fotografias se deveria trabalhar o seu potencial narrativo, procurando entre as imagens realizadas disponíveis, aquelas que reunissem um bom potencial narrativo – descritivo.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O uso da fotografia como discurso: o caso das festas populares religiosas na Ilha dos Marinheiros.

Carlos Leonardo Recuero, Lyl Rejane Recuero, Rebeca Recuero, José Antonio Recuero e Maira Recuero

As culturas populares expressam seus saberes através de manifestações repletas de significações e expressões muitas vezes indizíveis por palavras ou textos tradicionais. A memória e a tradição oral dos povos latino americanos, independente de suas vertentes étnicas e culturais possui uma vertente única. A origem de ameríndios e basicamente de portugueses e espanhóis, forjou uma religiosidade latina americana, fundamentada no cristianismo.
Entretanto, a diversidade que existe contraria aos ensinamentos cristãos que prevê à unidade aos seguidores de Cristo, gerou uma beleza única à cada evento popular religioso que ocorre na America Latina.
Este trabalho apresenta, mais do que uma narração tradicional um discurso visual, onde a fotografia é utilizada como o principal caderno de campo no estudo das manifestações religiosas e populares na Ilha dos Marinheiros.
A Ilha dos Marinheiros é a maior ilha da Laguna dos Patos. A Laguna dos Patos, erroneamente considerada como lagoa, fica localizada no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Com uma área de 39.280.854,60 m2 e tendo desta área 12.583.711,00m2 de lagoas, areais e dunas a Ilha dos Marinheiros está localizado no noroeste geográfico a 32O. De latitude sul e 52O.6`de longitude oeste e possui uma configuração que pode ser denominada de circular.
O nome originou-se pelas constantes idas à ilha por parte dos marinheiros da armada de Silva Paes, em busca de madeira e água potável para o abastecimento do forte, que em 1737 foi fundado a uma distância de 1,5 km através co canal da Lagoa dos Patos e que originou a cidade do Rio Grande.
A Ilha dos Marinheiros esta dividida em quatro regiões, denominadas por seus habitantes como Bandeirinhas, Porto do Rey, Marambaia e Fundos da Ilha. Tem hoje uma população estável de cerca de 1.500 pessoas, sendo a maioria composta por velhos e crianças. Os adultos e os jovens com maior capacidade de produção migram para o continente em busca de melhores oportunidades e em algumas vezes como uma forma de fuga da dura vida que os pescadores – lavradores da ilha levam.
A identidade do ilhéu é formada com base nos mecanismos de apropriação dos recursos do mar e na exploração de uma agricultura familiar rudimentar. As construções identitárias e sociais se elaboram a partir das dimensões imaginárias das representações culturais que foram forjadas no grupo por uma herança mítica e religiosa própria de habitantes insulares.
A íntima ligação do ilhéu com a natureza e os fenômenos naturais, próprio de culturas que fundamentam sua sociedade na retirada e captura de recursos naturais, forjou a fisionomia antropogeográfica do homem da ilha. Nesta formação muito contribuiu a herança religiosa portuguesa. O isolamento natural que determina as culturas insulares, o primitivismo social e sobretudo as relações que estabelece com o mundo do desconhecido, submetido às forças da natureza, dos ventos e das mares, é o que caracterizam no dizer de Marques o pescador-lavrador:
“(...) Temente a Deus e aos seus santos padroeiros”, “(...) mas deixou-o ainda supersticioso. Receia o sobrenatural; crê em mitos; usa “bentos”, talismãs. Utiliza-se de ‘rezas’ especiais para afastamento dos ‘mau spirito’ e do ‘mau olhadu’. Teme os ‘mau agoro’ e uma serie de coisas ‘qui não presta dizê ou fazê’; protege sua casa com ‘registo de santo’. (MARQUES, 1973:16)
A cultura insular ilhéu caracteriza-se por ter uma relação com o sagrado, com mitos e lendas que compõem o imaginário coletivo desta população. O mundo invisível dos espíritos só é passível de compreensão, através do diálogo entre a cultura, a memória e a devoção presente nos gestos, olhares e formas de comportamento presentes nas manifestações religiosas organizadas em homenagem aos santos padroeiros. É o agir e o fazer realizado como linguagem comportamental que irão estabelecer as relações com o mundo dos espíritos, rompidas pelo cotidiano da vida.
A manifestação religiosa de pessoas simples em busca da salvação divina e pelo paraíso, realizadas nas festas religiosas em pró do santo padroeiro, são uma contraposição ao agir realizado durante o tempo profano cotidiano exercido na existência terrena e exigem “negócios com o divino”, como o pedir, prometer e pagar.
Portanto, todas as maneiras de manifestação religiosa, como a retribuição das dádivas recebidas na troca ainda que mística de favores divinos, das promessas realizadas, de trocas de pedidos e orações e oferendas fazem da festa um acontecimento sagrado e “(...) santificado pelos deuses e suscetível de tornar-se presente pela festa”(ELIADE, 2001.:65) e exige do ilhéu devoto participar para agradar os deuses pois a troca entre o divino e o homem deve ser efetivada para estabelecer condutas sociais e comportamentos que deverão reger o grupo social até a próxima festa.
Por outro lado, existe como diz Mauss uma obrigação de dar e de receber, pois “(...) não implica só a obrigação de retribuir os presentes recebidos; ela supõe dois outros igualmente importante: a obrigação de os dar, por um lado, e a obrigação de os receber, por outro”(MAUSS.2001.67).
Assim, se percebe que a festa é repleta, não só de uma atmosfera religiosa de fé e devoção, mas é repleta de acontecimentos que visam reparar as pequenas e grandes transgressões realizadas para se obter uma re-inserção no mundo profano, de uma nova maneira e com um novo status como diz Van Gennep(1978).
Este acontecimento sócio – cultural é repleto de signos e significados. É neste momento religioso-social que o homem simples, submetido a natureza do tempo cíclico da vida e, distante da submissão sufocante da cidade grande e do modernismo globalizante, re- estabelece a ordem do grupo social.
As festa religiosas são ritos de passagem que servem também para aumentarem a coesão do grupo social, estreitarem laços familiares e reavivarem as relações de parentesco. Este processo, na Ilha dos Marinheiros, é ainda uma forma de definição de identidade étnica que define o grupo nativo e os outros.
A invenção da fotografia “(...) abriu à antropologia novas possibilidades de trabalho, como objetivar aspectos da realidade que antes não passavam de meras impressões (GURAN, in ACHUTTI, 1998: 88), uma vez que a natureza vai se substituindo a cada momento, mudando o anteriormente visto.
A expressão de Lévi-Strauss “mirar, escuchar, leer”(LEVI-STRAUSS, 1992:xx) deve ser entendida não só como uma análise de seu trabalho, “(...) mas como uma indicação de que o uso dos sentidos da visão e da audição devem ser preparados pelo antropólogo, para a sua utilização, não só pela percepção do real, que é amplamente visual e auditivo, mas como outra fonte de novas observações seguras sobre a cultura, tomadas com a utilização da ‘reprodutibilidade técnica do real’, e realizadas pelo aparato fotográfico”(RECUERO.2008.36) .
Assim a utilização da fotografia como ‘método de observação’ sugerida por Mauss em seu “Manual de Etnografia” (2006), a observação participante de Malinowski aventada no livro “Os Argonautas do Pacífico Ocidental” (1968) como forma de efetuar uma pesquisa de campo antropológica e etnográfica, são completados como método desta trabalho com as orientações de Collier Jr., e “A Utilização da Fotografia Como Método de Pesquisa”(1973), são os elementos chaves na elaboração deste trabalho com o uso da Fotografia como discurso: o caso das festa populares religiosas na Ilha dos Marinheiros.
A escolha da fotografia como fio condutor se fundamenta na bibliografia existente sobre antropologia visual, pois como diz Samain ao falar sobre o livro de Bateson e Mead “Balinese Character Photografic Analysis”, como fonte de pesquisa em ciências sociais “(...) concebidos como verdadeiras fontes de pesquisa e não apenas como meras ilustrações”(SAMAIN in ALVES, 2004: 53).
Finalmente sobre o uso da fotografia como método usa-se a premissa de que “(...) a fotografia implica, de nossa parte, um conhecimento e uma aceitação do mundo tal como a câmara o registra”(SONTAG, 1981:22).
Para a investigação sobre as festas religiosas na Ilha dos Marinheiros, se participou de todas as festas religiosas que ocorreram nos últimos três anos. Foram realizadas cerca de 9000 fotografias digitais e 2000 fotografias analógicas em preto e branco e a cores. As festas foram fotografadas desde a sua preparação, organização e a festa propriamente dita, com todos os ritos existentes.
Ao se dar a mesma importância da imagem fotográfica ao texto tradicional, não se abriu mão do tradicional caderno de campo e de entrevistas orais, alem da observação imerso na comunidade. Assim, durante os tres anos foi possível reunir uma infinidade de informações, sobre a tradição popular dos festejos, sobre a escolha dos santos padroeiros, sobre os ritos religiosos e sobre as manifestações individuais dos ilhéus.
Se o que a fotografia apresenta é provas da realidade, a ordenação das imagens fotográficas obtidas de forma a comporem um texto visual sobre as manifestações sociais como forma de recriarem as relações interrompidas com os santos padroeiros e conseqüentemente com o mundo dos espíritos.
As imagens apresentam o rito, a magia, a piedade e a fé destas relações com o sobrenatural, mostrando como o ilhéu através da linguagem do corpo e de suas variantes, estreita as relações com os espíritos do céu e os espíritos da terra e da água renovando com as divindades contratos que regem o modo de viver social e culturalmente naquela sociedade ilhéu.
Percebe-se ao final do trabalho que os Ilhéus fundamentam sua vida e suas relações sociais nos preceitos do cristianismo trazido pelos colonizadores, com forte características latinas e hispano-portuguesas. Que as exteriorizações dos aprendizados feitos através da visualização das práticas devocionais nos acontecimentos religiosos e festas, determinam na memória do grupo social nativo, as maneiras de agirem com vista as suas relações com o mundo sobrenatural
Que o uso da fotografia como método discursivo, neste caso, mostrou-se eficiente, pois a duplicação da realidade efetuada pelas imagens fotográficas foram mais persuasivas que a observação presencial, talvez devido a existência do movimento, que é perturbador para o ser humano.
A mediatização da fotografia com o uso do processo fotoetnográfico no estudo cientifico social é uma dessas novas tecnologias hipertextuais que o trabalho de campo deve incorporar, como forma de gerar uma compreensão maior e melhor dos seus objetos de estudo, reforçando o diálogo pendente entre a academia e o saber popular.
Bibliografia
ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. (Org) Ensaios Sobre o Fotográfico. Unidade Editorial.Porto Alegre. 1998.
ALVES, André. Os Argonautas do Mangue. Editora Unicamp.Campinas. 2004.
COLLIER JR. John. Antropologia Visual: A Fotografia como Método de Pesquisa. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo 1973.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. A Essência das Religiões. Editora Martins Fontes. São Paulo.2001.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. Um Relato do empreendimento e da Aventura dos Nativos nos Arquipelágos da Nova Guiné Ocidental. Coleção os Pensadores. Editora Abril.São Paulo. 1978.
MARQUES, Lilian Argentina B. O Pescador Artesanal do Sul. Mec. Funarte. Rio de Janeiro. 1980.
MAUSS, Marcel. Ensaio Sobre a Dádiva. Edições Lisboa. 2001.
RECUERO, Carlos Leonardo. Dissertação de Mestrado. A Ilha dos Marinheiros: um estudo fotoetnotextográfico do ilhéu, seus mitos e a sua religiosidade. UFPel. 2008.
SONTAG, Susan. Ensaios Sobre a Fotografia. Editora Arbor. Rio de Janeiro. 1981.
VAN GENNEP, Arnold. Os Ritos de Passagem. Editora Vozes. Petropolis. 1978

terça-feira, 2 de setembro de 2008

De Etienne Samain, divulgo

O Antropólogo (E TODO ser humano) procura observar, conhecer e entender o “real”, esse campo vastíssimo da “realidade” humana. Um campo ou, melhor dizendo, um organismo em constante ação e interação, em constante trabalho de parto, de luto e de renascimento. Um gigantesco território vivo, recortado, no tempo e no espaço, por histórias, memórias, imaginários; atravessado por símbolos, sonhos e novos recomeços. Eis o que procuramos definir minimamente, quando falamos de “culturas” humanas. Delas, todavia, podemos entrever apenas o que oferecem à nossa observação e à nossa experimentação , isto é, representações do real. De tal modo que toda tentativa de compreensão dos fatos de cultura nunca será outra coisa senão representação de representações, isto é, no melhor dos casos, o esforço de uma nova contextualização, de uma nova enunciação e de uma inevitável interpretação destes mesmos fatos. Esforços que procuramos edificar, recorrendo a palavras, sons, gestos, imagens, gritos e, até, a silêncios. Pois não é inútil lembrar que, sem meios de comunicação, sem suportes comunicacionais, não existiriam as sociedades humanas, menos ainda as culturas, que os homens constroem através e com o auxílio desses suportes.

Etienne Samain. 2004.